E Por que é tão difícil outros países fazerem o mesmo?
Cingapura é um país
bastante diferente do Brasil. Tem o tamanho de uma cidade, uma população de
apenas 5 milhões e está entre as nações mais ricas do mundo. Mas há
similaridades. Um país tropical, também enfrenta um problema característico de
climas assim: a proliferação do mosquito Aedes aegypti.
A cidade-estado no limite sul do estreito de Malaca, na Ásia, adotou um rigoroso programa no final dos anos 1960, que em três meses reduziu de 16% para 2% o índice de locais inspecionados onde foram encontradas larvas e pupas (estágio anterior à fase adulta) do mosquito e manteve a baixa incidência de dengue, principal doença transmitida pelo inseto no país.
O sucesso da campanha teve como efeito colateral o enfraquecimento da imunidade da população à doença e, quando o vírus ressurgiu no início dos anos 1990, a epidemia se estabeleceu de forma abrupta.
Após altos e baixos, o país ainda luta para retomar o controle da situação, mas tem apresentado bons resultados e é considerado atualmente bem-sucedido, com uma queda de 45% nos casos da doença somente nos primeiros cinco meses de 2015.
A cidade-estado no limite sul do estreito de Malaca, na Ásia, adotou um rigoroso programa no final dos anos 1960, que em três meses reduziu de 16% para 2% o índice de locais inspecionados onde foram encontradas larvas e pupas (estágio anterior à fase adulta) do mosquito e manteve a baixa incidência de dengue, principal doença transmitida pelo inseto no país.
O sucesso da campanha teve como efeito colateral o enfraquecimento da imunidade da população à doença e, quando o vírus ressurgiu no início dos anos 1990, a epidemia se estabeleceu de forma abrupta.
Após altos e baixos, o país ainda luta para retomar o controle da situação, mas tem apresentado bons resultados e é considerado atualmente bem-sucedido, com uma queda de 45% nos casos da doença somente nos primeiros cinco meses de 2015.
Estratégia
Em três ocasiões, o mosquito chegou a ser erradicado no
mundo: primeiro, entre 1946 e 1970, em uma campanha continental nas Américas,
coordenada pelo Departamento Sanitário Pan-Americano, na qual 18 nações, entre
elas o Brasil, foram beneficiadas.
Em 1981, Cuba conseguiu conter o mosquito por meio de um esforço militar
vertical e com extenso uso de pesticidas.
O terceiro caso de sucesso foi o de Cingapura. No centro da estratégia
asiática, estão três pilares: pesado investimento em controle; coleta e análise
de informação estratégica; e punição ao desleixo.
A Agência Nacional de Meio Ambiente (NEA, na sigla em inglês), órgão
responsável pela vigilância, trabalha em força-tarefa com 27 organizações
públicas e privadas. Diariamente, 850 agentes percorrem regiões da cidade
aplicando pesticida nos focos de desova.
A agência monitora o perímetro do país com uma rede de armadilhas. As chamadas
"gravitraps" atraem mosquitos fêmeas em busca de um local para
colocar seus ovos.
O acompanhamento sistemático dessas armadilhas permite ao governo mapear onde
há maior incidência de mosquitos férteis e, então, responder com esforço
redobrado nestas áreas.
Um código de cores avisa aos moradores o nível de risco no bairro onde moram,
para que a conscientização ocorra em tempo real. O alerta verde indica que
"está tudo bem". O amarelo, que "há casos de dengue registrados
no seu bairro". Já o alerta vermelho aponta que "há mais de dez casos
registrados" nas proximidades.
Funcionários da NEA têm autoridade para entrar sem autorização judicial em
propriedades particulares e emitir multas pesadas aos cidadãos que tiverem em
suas casas água parada com ovos do mosquito. Em última instância, a negligência
pode levar à cadeia.
Igualmente, empreiteiras têm de garantir canteiros de obras seguros, senão a
construção pode ser imediatamente embargada.
A cada ano, Cingapura investe pelo menos US$ 12 dólares (R$ 45) por cidadão no
combate à dengue. Segundo especialistas ouvidos pela BBC Brasil, é improvável
que outros países consigam replicar o modelo devido ao alto investimento
necessário.
A título de comparação, a renda per capita em Cingapura em 2014 foi de US$ 83,1
mil, quase cinco vezes mais do que a brasileira, de US$ 16,2 mil, segundo o
site CIA World Factbook.
Brasil
Além do alto custo, o vasto território e a necessidade de medidas rigorosas inviabilizariam
a estratégia asiática no Brasil.
"Não podemos replicar o modelo de Cingapura. É completamente diferente.
Cingapura é muito pequena, muito rica e muito severa em suas leis. Seria
impossível. Todo país precisa adaptar medidas de controle às suas
condições", diz o médico Jonas Schmidt-Chanasit, professor do Instituto
Bernard-Noch de Medicina Tropical e especialista do Centro de Colaboração e
Pesquisa para Arbovírus e Febre Hemorrágica da Organização Mundial de Saúde.
"A questão é que precisamos de muito dinheiro. O controle de vetores é
muito caro. Até mesmo para a Alemanha, onde é inverno e faz frio, temos um
programa de controle de vetores. O controle de uma pequena área no sudoeste, ao
longo do rio Reno, por somente três meses, já custa 3 milhões de euros (R$ 12 milhões).
Qual seria o preço disso para o Brasil o ano todo? R$ 3 bilhões ou mais?",
ponderou Schmidt-Chanasit.
Erradicar o mosquito Aedes aegypti no Brasil nos mesmos moldes do programa de
Cingapura "seria extremamente difícil e sem eficiência de custo",
corroborou Scott O'Neil, professor da Universidade Monash de Melbourne, na
Austrália.
"O Aedes aegypti não pode ser erradicado. Se nem mesmo na Ásia ele foi
completamente exterminado, imagine em outros lugares onde as medidas de
controle são mais fracas", afirma Christoph Hatz, professor de
Epidemiologia do Instituto Suíço de Saúde Pública e Doenças Tropicais na
Basiléia.
Novas tecnologias
O que Cingapura e Brasil
têm em comum, entretanto, é a busca por novos métodos de controle do mosquito.
Ambos os países estão estudando uma tecnologia pioneira desenvolvida pela
equipe de O'Neil.
O método de erradicação proposto não foca somente em reduzir a população de
insetos, mas principalmente em propagar a presença da bactéria wolbachia entre
os mosquitos.
Segundo pesquisas, a presença da wolbachia no organismo do inseto agiria como
agente bloqueador na transmissão de doenças tropicais.
"Já estamos testando essa tecnologia em cinco países. Sabemos que ela
funciona igualmente para dengue, chikungunya e zika e, inclusive, para
parasitas da malária e da febre amarela", diz O'Neil à BBC Brasil.
Os testes com mosquitos portadores da bactéria estão ocorrendo na Colômbia,
Tailândia, Indonésia, Austrália e Brasil, onde a coordenação é da Fundação
Oswaldo Cruz (Fiocruz).
Machos com wolbachia que acasalam com fêmeas nativas resultam em ovos que não
vingam. O cruzamento entre dois mosquitos com a bactéria resulta em filhotes
com a bactéria e, quando apenas a fêmea está infectada, os ovos que ela gerar
também carregarão a bactéria consigo.
A wolbachia seria segura e não causaria doenças em humanos, por ser um elemento
que já está presente na natureza e em diversos insetos, afirma O'Neil. Parte da
pesquisa está sendo feita com fundos doados pelo bilionário e filantropo Bill Gates
e sua esposa.
A expectativa é de que, no futuro, com um investimento de apenas US$ 1 por
cidadão, seja possível erradicar muitas das doenças propagadas pelo mosquito,
sem ter de exterminá-lo, de acordo com o cientista.
"Apenas precisaremos introduzir a bactéria uma vez, e ela garantirá
proteção contínua (contra as doenças). É um gasto único, não repetido, como é o
caso dos pesticidas", projeta o australiano.
(UOL Notícias - Ciência e Saúde)
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