Para
especialista, baixo nível do Rio Paraíba do Sul influencia fenômeno.
EDUARDO
FERREIRA
Rio
- A velocidade cada vez maior com que o mar avança e destrói construções
no litoral de São João da Barra, Norte Fluminense, pode ter relação direta com
a estiagem que assola o Rio Paraíba do Sul no estado.
Dados da Defesa Civil do
município apontam que nos últimos quatro meses, o mar avançou cerca de oito
metros nos distritos de Atafona e Açu. O fenômeno acontece desde a década de
1970, mas está se agravando na cidade onde o Paraíba do Sul deságua e o nível
do rio já chega a 2,20 metros — o normal seria 4,8m. Um quarteirão, 15 ruas e
cerca de 500 casas já desapareceram do mapa.
De acordo
com o oceanógrafo David Zee, o rio funciona como um espigão hídrico enfrentando
as ondas. Quando sua vazão diminui, o equilíbrio de força com o mar acaba. Ele
explica que o litoral tem muitos sedimentos de areia e argila. Com o rio baixo,
o carregamento desses detritos diminui e, com isso, há um menor aporte de água
doce. “Todo o material se acumula na embocadura do Paraíba do Sul. O mar,
então, passa a atuar com mais intensidade. O equilíbrio de forças que existia
antes está acabando. O ciclo hídrico está todo desbalanceado”, ressaltou o
oceanógrafo.
Duas
famílias tiveram que deixar suas casas na última semana, em Atafona, porque
corriam risco de morte. “As pessoas moravam em frente à praia e a onda estava
alcançando as residências. O mar está impróprio para banho por causa dos
escombros”, disse o sub-coordenador de Defesa Civil do município, Wellington
Barreto.
Ex-moradora
de Atafona, a professora Vera Lúcia Fernandes, 52 anos, teve que se mudar há
dois meses para a casa da irmã, em Campos dos Goytacazes, por causa do avanço
do mar. “Tive que sair com meus dois filhos porque me sentia ameaçada. Fiquei
triste porque sempre morei em São João da Barra, mas não tive condições de
ficar. Não tenho dinheiro para comprar outra casa. Infelizmente não podemos
fazer nada contra a natureza”, lamentou.
O prefeito
José Amaro de Souza, o Neco, pediu um estudo para o Instituto Nacional de
Pesquisas Hidroviárias (INPH) e espera receber conclusão até o próximo mês, já
com os números e custos de todo o projeto, que inclui Atafona. Já para o Açu, a
prefeitura solicitou à empresa Prumo Logística, responsável pelo porto, que
custeasse o estudo junto ao mesmo instituto.
Cenário de
destruição
Quem passa
por Atafona e Açu pode perceber os entulhos que chamam a atenção à beira-mar.
São dezenas de casas destruídas. No Açu, uma área equivalente a três campos de
futebol foi levada pelo mar. “Várias pessoas abandonaram suas casas antes mesmo
de a Defesa Civil interditar. A situação é preocupante porque o mar não para de
avançar”, disse.
Moradora do
Açu, a aposentada Gracilda Francisca do Nascimento, 71, relembra a orla antes
de tudo começar. “Aqui havia barracas, cadeiras e bares. Meu medo é a água do
mar destruir tudo”, disse. Já a freira Nanci de Azeredo fez fotos dos estragos.
“Aquela casa (foto) caiu na sexta-feira (dia 20). As pessoas estão em estado de
alerta. Há muitas casas interditadas. O mangue que tinha em Atafona não existe
mais”, disse.
Porto do
Açu nega ligação a fenômeno
Para o
pesquisador do Núcleo de Estudos Socioambientais da UFF, Aristides Soffiati, as
obras do Porto do Açu agravaram a situação. “A empresa fez dois espigões. Abriu
um canal no continente para fazer um estaleiro e criou dois prolongamentos de
pedra”. Com isso, a água passa, mas a areia fica e causa o engordamento da
praia. “O mar está perdendo areia. Não encontra mais a resistência da praia”.
A Prumo,
responsável pelo porto, contratou a Fundação Coppetec para realizar um estudo e
diz que o resultado indicou ser inviável associar o estreitamento da faixa de
areia às obras do porto.
Fonte: O Dia / Estado
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