Sem R$ 19
milhões no orçamento, universidade não tem como pagar bolsistas e manter
projetos.
EDUARDO FERREIRA
Rio - Considerada a 11ª melhor do Brasil e a
primeira do Estado do Rio, segundo estudo recente do Ministério da Educação, a
Universidade Estadual do Norte Fluminense (Uenf) vive uma situação dramática. O
corte de R$ 19 milhões do orçamento da instituição pelo governo estadual — de
R$ 172 milhões para R$ 153 milhões este ano — afetou diretamente os pagamentos
de contas de energia, água, telefone, segurança e limpeza terceirizada, além do
repasse dos recursos para o restaurante universitário e a contratação de
professores auxiliares.
A preocupação do presidente da Associação de
Docentes da Uenf (Aduenf), Luis Passoni, é que a universidade não tenha mais
condições de funcionar. “Estamos preocupados. Semana que vem (esta semana) vou
ao Rio iniciar contatos com governantes para pedir uma ajuda. Estamos sem
telefone por causa do atraso no pagamento. Se cortarem a água e a luz, a Uenf
fecha as portas”, afirmou.
Outro problema, segundo Passoni, é que as bolsas
estudantis de todas as modalidades estão em atraso há dois meses. “Isso
prejudica diretamente a manutenção dos estudantes na universidade e os projetos
estão paralisados. Os novos terão que ser indefinidamente adiados. Nenhum
estudo de extensão está sendo pago. Os alunos carentes e os cotistas encontram
dificuldades se as bolsas forem pagas com atraso”, comentou.
Em nota, o reitor da Uenf, Silvério de Paiva
Freitas, explicou que as bolsas em atraso são pagas com a chamada “verba
descentralizada da Faperj”, concedida a todas as universidades estaduais para
que possam conceder bolsas para atuar em projetos vinculados à universidade.
Segundo a nota, a reitoria tem tentado uma solução junto às secretarias
estaduais e à Faperj para solucionar o problema.
“Todos os procedimentos do pagamento de janeiro
deste ano foram concluídos no tempo correto e, desde o dia 9 de fevereiro,
encontram-se à disposição da Secretaria Estadual de Fazenda (Sefaz), aguardando
a sua execução. Do mesmo modo, todos os procedimentos referentes ao mês de
fevereiro de 2015 foram concluídos na última terça-feira, restando a liberação
financeira pela Sefaz”, informou. A Secretaria informou que os pagamentos à
Faperj estão sendo negociados junto à instituição . “Não há um prazo a ser
informado, está em negociação permanente”, informou a assessoria.
Professor fica sem material
O professor Marcos Pedlowski diz que as
bolsas são a fonte de renda única para muitos estudantes, que dependem do
pagamento regular para permanecerem nas cidades de Campos dos Goytacazes e
Macaé, onde os programas de pós-graduação da Uenf são oferecidos. Na última
quinta-feira, o movimento estudantil protestou pelo pagamento de bolsas
atrasadas. “Os alunos não incendiaram o bandejão porque ele é mantido com
dinheiro do MEC”, disse.
Segundo ele, só com despesas de salários e
bolsas acadêmicas, a Uenf gasta R$ 120 milhões. “Soma-se luz, água, telefone,
insumos para os quatro centros de pesquisa, funcionários terceirizados de
limpeza e segurança. A conta não fecha. Houve uma perda de R$ 19 milhões. É
muita coisa.”
O professor contou que teve que tirar
dinheiro do seu projeto para pagar os testes para os alunos. “O papel almaço
das provas que aplico quem compra sou eu. A tinta para impressão também.
Antigamente, eu pedia material para o almoxarifado da universidade, agora não
tem mais”, destacou.
De acordo com o diretor do Diretório Central
dos Estudantes (DCE), Braullio Fontes, apesar desse panorama, os estudantes
continuam a tocar os programas. “Mesmo sem o pagamento, os alunos estão
mantendo os projetos. Eu, por exemplo, não recebi a bolsa de janeiro e nem de
fevereiro, mas continuo o meu curso de extensão em Filosofia”, observou.
Em outra nota, a Gerência de Recursos Humanos
da Uenf informou que contestou a decisão do governo de não corrigir os
percentuais de pagamento do adicional de insalubridade dos servidores
estatutários, reajustados por conta de enquadramento, progressão ou triênio.
Fonte:
O Dia / Estado
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