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sábado, 7 de março de 2015

Universitária aos 90 anos: costureira realiza o sonho de estudar moda


 Márcia Montojos

Setenta anos após deixar os bancos escolares, a costureira aposentada Zuleika Saeta está de volta à sala de aula. Aos 90 anos, completados em novembro, ela está no segundo período do curso de moda da Universidade Veiga de Almeida (UVA), na Tijuca.

— Já fiz muitas coisas nesta vida. Plantei árvore, escrevi um livro de poesias, tive filhos, me casei quatro vezes e agora sou uma universitária —comemora Zuleika, que precisou de muita determinação para chegar onde está.

Em 2010, aos 87 anos, viu um anúncio do Enem na televisão e decidiu se inscrever. Para isso, precisou pedir ajuda a uma amiga, já que não tinha computador em casa. 

Passada esta primeira etapa, começou a estudar. Mas ao perceber que tinha muitas dúvidas em matemática, física, química e biologia, se matriculou em um curso de pré-vestibular social na igreja Santa Terezinha, na Tijuca, que passou frequentar a noite.

Estudou por três meses e o esforço foi recompensado com a aprovação no Enem. Porém, ela não contava com um novo obstáculo: não tinha os comprovantes de conclusão do ensino médio, indispensáveis para efetuar matrícula em instituições de ensino superior. Na escola onde estudou, o C. E. Amaro Cavalcanti, no Largo do Machado, não havia nenhum registro.

— Não sou de desistir de nada. Falei com muitas pessoas e fui seguindo as orientações que me davam. Assim, comecei a frequentar um Centro de Educação de Jovens e Adultos (Ceja), em Copacabana, enquanto assistia as aulas moda como ouvinte - lembra ela, que conseguiu autorização da direção da UVA para frequentar o curso.

Com aulas diárias e muitos trabalhos que fazia questão em entregar, acabou adoecendo e precisou se afastar.
— Fiquei com imunidade baixa e tive herpes zoster. Precisei de muito tempo para me recuperar. Depois disso, também passei por uma cirurgia na coluna. Me afastei da faculdade, mas sabia que voltaria — lembra a estudante.

E foi o que aconteceu. Em agosto de 2014, ela decidiu que era a hora de retornar e procurou a universidade. Porém, precisaria fazer o vestibular para retornar e oficializar sua condição de aluna da graduação. Com nota máxima no exame, que consistia em uma redação, ela conseguiu realizar seu sonho.

— Todos se sensibilizaram com o meu caso e acabei ganhando uma bolsa, já que não teria dinheiro para pagar o curso. Gosto muito de moda e tenho ótimo relacionamento com a turma. Sou vanguardista e não acho nada estranho. Vejo muita coisa engraçada por aí, combinações que jamais usaria. Mas acho essas pessoas corajosas em se expressarem da forma que querem — conta Zuleika, que se auto define como uma ex-perua.

— Eu era mais extravagante, hoje prefiro ser discreta. Por ter engordado, gosto de usar túnicas, acho mais elegante. Para mim, a elegância não está no tamanho da pessoa. As gordinhas podem ser muito elegantes se souberem se vestir, o que não dá é vestir roupas apertadas achando que vão disfarçar o peso — , avalia ela, revelando que tem mais de quarenta chapéus, cem sapatos e muitos brincos em seu guarda-roupa.

Moradora de Botafogo, Zuleika utiliza os serviços de um motorista de taxi para ir á faculdade três vezes por semana. Seu plano para depois de formada é colaborar com algum projeto social ligado ao morro Dona Marta, vizinho à sua casa.

— Não tenho condições de voltar a trabalhar. Mas posso ajudar de alguma forma e é isso que vou fazer — planeja.

Alguém duvida?

Fonte: extra.globo.com


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