Setenta
anos após deixar os bancos escolares, a costureira aposentada Zuleika Saeta
está de volta à sala de aula. Aos 90 anos, completados em novembro, ela está no
segundo período do curso de moda da Universidade Veiga de Almeida (UVA), na
Tijuca.
— Já fiz
muitas coisas nesta vida. Plantei árvore, escrevi um livro de poesias, tive
filhos, me casei quatro vezes e agora sou uma universitária —comemora Zuleika,
que precisou de muita determinação para chegar onde está.
Em 2010,
aos 87 anos, viu um anúncio do Enem na televisão e decidiu se inscrever. Para
isso, precisou pedir ajuda a uma amiga, já que não tinha computador em casa.
Passada esta primeira etapa, começou a estudar. Mas ao perceber que tinha muitas
dúvidas em matemática, física, química e biologia, se matriculou em um curso de
pré-vestibular social na igreja Santa Terezinha, na Tijuca, que passou
frequentar a noite.
Estudou por
três meses e o esforço foi recompensado com a aprovação no Enem. Porém, ela não
contava com um novo obstáculo: não tinha os comprovantes de conclusão do ensino
médio, indispensáveis para efetuar matrícula em instituições de ensino
superior. Na escola onde estudou, o C. E. Amaro Cavalcanti, no Largo do
Machado, não havia nenhum registro.
— Não sou
de desistir de nada. Falei com muitas pessoas e fui seguindo as orientações que
me davam. Assim, comecei a frequentar um Centro de Educação de Jovens e Adultos
(Ceja), em Copacabana, enquanto assistia as aulas moda como ouvinte - lembra
ela, que conseguiu autorização da direção da UVA para frequentar o curso.
Com aulas
diárias e muitos trabalhos que fazia questão em entregar, acabou adoecendo e
precisou se afastar.
— Fiquei
com imunidade baixa e tive herpes zoster. Precisei de muito tempo para me
recuperar. Depois disso, também passei por uma cirurgia na coluna. Me afastei
da faculdade, mas sabia que voltaria — lembra a estudante.
E foi o que
aconteceu. Em agosto de 2014, ela decidiu que era a hora de retornar e procurou
a universidade. Porém, precisaria fazer o vestibular para retornar e
oficializar sua condição de aluna da graduação. Com nota máxima no exame, que
consistia em uma redação, ela conseguiu realizar seu sonho.
— Todos se
sensibilizaram com o meu caso e acabei ganhando uma bolsa, já que não teria
dinheiro para pagar o curso. Gosto muito de moda e tenho ótimo relacionamento
com a turma. Sou vanguardista e não acho nada estranho. Vejo muita coisa
engraçada por aí, combinações que jamais usaria. Mas acho essas pessoas corajosas
em se expressarem da forma que querem — conta Zuleika, que se auto define como
uma ex-perua.
— Eu era
mais extravagante, hoje prefiro ser discreta. Por ter engordado, gosto de usar
túnicas, acho mais elegante. Para mim, a elegância não está no tamanho da
pessoa. As gordinhas podem ser muito elegantes se souberem se vestir, o que não
dá é vestir roupas apertadas achando que vão disfarçar o peso — , avalia ela,
revelando que tem mais de quarenta chapéus, cem sapatos e muitos brincos em seu
guarda-roupa.
Moradora de
Botafogo, Zuleika utiliza os serviços de um motorista de taxi para ir á
faculdade três vezes por semana. Seu plano para depois de formada é colaborar
com algum projeto social ligado ao morro Dona Marta, vizinho à sua casa.
— Não tenho
condições de voltar a trabalhar. Mas posso ajudar de alguma forma e é isso que
vou fazer — planeja.
Alguém
duvida?
Fonte: extra.globo.com
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