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quinta-feira, 7 de maio de 2015

'Bolsa escola' da Justiça é mordomia carioca


Tribunais de MG e ES não pagam auxílio educação aos funcionários. No Rio, benefício pode chegar a R$ 2.800.

CONSTANÇA REZENDE


Rio - O Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro deverá liderar a lista de regalias recebidas entre os demais desembargadores e juízes do sudeste do país, caso seja aprovado na Assembleia Legislativa o projeto que concede “bolsa escola” de até R$ 2.860,41 para os membros do Tribunal, com até três filhos entre 8 e 24 anos. O projeto de lei prevê reembolso de despesas realizadas com educação de R$ 953,47 por filho.

Os desembargadores do Rio, que recebem salário de cerca de R$ 30 mil, já têm direito a outros benefícios, como alimentação, R$ 1 mil de auxílio-creche, plano de saúde, academia própria, carros e motoristas. 

No Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJ-MG), não há o benefício.

De acordo com a assessoria de imprensa do órgão, existe apenas um auxílio-creche de R$ 594 e só para os servidores. Juízes e desembargadores são excluídos da regalia.

Na Corte estadual do Espírito Santo (TJ-ES), juízes, desembargadores e servidores também não recebem o auxílio-educação. Assim como em Minas, apenas servidores, com filhos de até 5 anos, ganham auxílio-creche, de R$ 500.

Têm três filhos

Em sua defesa, o Tribunal de Justiça do Rio alegou, através de sua assessoria de imprensa, que hoje apenas 20% de servidores e magistrados têm três filhos ou mais e receberiam o máximo do benefício.

Além disso, o TJ-RJ afirmou que o projeto de lei relativo ao auxílio-educação para servidores e magistrados estabelece que os recursos para pagamento desse benefício não sairão do orçamento do estado, mas sim do Fundo Especial do Tribunal de Justiça, composto, entre outras coisas, pela taxa judiciária e custas judiciais. De acordo com a lei, o fundo tem o objetivo de modernizar e reaparelhar o Judiciário.

“O benefício é também uma conquista dos servidores que têm no auxílio-educação uma de suas reivindicações históricas. A proposta visa fortalecer o apoio à educação. Outras instituições similares já concedem esse mesmo benefício há anos”, defendeu o TJ.

'É o rico cada vez mais rico'

Enquanto os funcionários do TJ receberão R$ 953,47 para cada filho em idade escolar, dona Maria Edeleuza da Silva, 45 anos, ganha os mesmos R$ 953,47 para sustentar três crianças.

O valor corresponde ao piso das domésticas no Rio de Janeiro e com ele dona Edeleuza se desdobra para criar os três meninos, todos alunos de escola pública. Ela mora em São Gonçalo, trabalha em Niterói e está indignada com o novo benefício do Judiciário. “É o rico cada vez mais rico e pobre mais pobre mesmo, né?”, desabafou.

Sem a família por perto, a nordestina, separada do pai das crianças, é quem tem que resolver todos os problemas da casa. “Em vez de dar mais dinheiro para eles [desembargadores], por que as autoridades não se preocupam em colocar merenda nas escolas daqui?”, questionou Edeleuza. A escola municipal onde seu filho mais novo estuda tem liberado os alunos mais cedo das aulas porque não há merenda para oferecer às crianças.

Edeleuza faz esforço para que seus filhos levem o próprio lanche, mas essa não é a realidade da maioria. 

Como o DIA mostrou no mês passado, só no município de São Gonçalo foram desviados R$ 5,2 milhões em fraude que envolve diretores de creches e pessoas ligadas a empresas fornecedoras de alimentos.

Colaborou Amanda Prado


Fonte: O Dia

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