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domingo, 3 de maio de 2015

Documentário explica a paixão dos "geraldinos" do Maracanã

Local popular e setor mais barato do estádio, a "Geral" era também sempre acolhedora; "Eles assistiam os jogos em pé, e com uma limitada visão do campo, mas estavam no estádio. Participavam do jogo. Eram ouvidos. Algo que, hoje, não acontece mais", explica Renato Martins, um dos diretores do filme.

(Foto: Reprodução)
O dia 25 de abril de 2005 não foi um domingo comum. O almoço em família de muitos ficou marcado por um acontecimento que estava prestes a acontecer, e que marcaria para sempre a relação do brasileiro com o futebol: a "Geral" do Maracanã iria acabar.
Local popular, o setor mais barato do estádio era também o mais prejudicado visualmente: os torcedores ficavam no nível do campo de pé, ou seja, quem queria luxo, que passasse longe dali. Mas grande parte dos fanáticos torcedores, principalmente de Flamengo, Vasco, Fluminense e Botafogo ficaram viúvos da Geral. Mas, qual é realmente o “tamanho” daquele monte de concreto?
Foi essa pergunta que os diretores Pedro Asbeg e Renato Martins tentaram responder com o documentário Geraldinos, que estreia no festival “É Tudo Verdade”, em São Paulo, nesta quarta-feira (15).
Mesclando depoimentos de torcedores e atletas que tiveram uma relação íntima com o setor, o documentário busca resgatar algo que parece ter ficado em tempos pré arenas e namings rigths. “Acho que o público da antiga Geral está com muita dificuldade de ir aos estádios para assistir aos jogos do seu time. Alguns ainda conseguem ir recebendo alguma ajuda, mas a maioria virou ex-Geraldino”, lamentou Renato.
A ideia do filme surgiu em 2005, já na reta final de geral. O Maracanã iria ser fechado para obras do Pan-americano de 2007 e, quando fosse entregue aos torcedores, a geral não existiria mais. Martins e Asbeg foram assistir Flamengo e Fiburguense no setor e, uma semana depois, voltaram com a câmara. Estavam convencidos que teriam que fazer o registro daquilo que viraria lenda poucos meses depois.
“Nossa pesquisa já era a própria filmagem, pois havia a urgência de registrar aquelas pessoas dentro daquele espaço, antes que ele terminasse. Falamos tanto com os torcedores tradicionais quanto com os que estavam ali pela primeira vez. Sabíamos que existiam muitas histórias para serem contadas”, explicou Martins.
“Os moinhos de vento ficavam pra fora”
Dom Quixote de la Mancha é o herói pastelão da história de Miguel de Cervantes. Ao invés de um corpo atlético, um já envelhecido. Ao invés de um fiel escudeiro pronto a servir, o medroso Sancho Pança. Para o jornalista Lúcio de Castro, em depoimento ao documentário, os Geraldinos eram os Dom Quixotes, metade loucos metade heróis, que deixavam seus problemas ou, na analogia de Cervantes, seus moinhos de vento, pra fora do Maracanã.  
Edgard Costa Filho é o nome do personagem mais marcante da Geral, na opinião de Renato. No primeiro turno do campeonato carioca de 1982, o Flamengo vencia o Fluminense por 3 a 0 no primeiro tempo. Edgard, tricolor desesperado, na eminência de ver seu time tomar uma goleada histórica, invadiu o campo e se ajoelhou perante a seu carrasco Zico e clamou por piedade. “De repente um cara agarrou as minhas pernas e falou: 'pelo amor de Deus não faz mais gol no Fluminense não, pô'”, conta Zico no documentário.
Os dragões do dia-dia eram aceitáveis, mas aquilo já era demais. E de repente Edgard ganhou super-homem. “Parece difícil pular do foço pra cá, mas a emoção faz com que o torcedor voe. Eu voei da geral pro campo e não foi difícil não. (...) O Zico fala disso até hoje, que se não sou eu ali o Flamengo ia dar uma goleada histórica”, conta, orgulhoso de seus super-poderes.
Por que os geraldinos não são mais bem vindos?
O progresso está estampado na bandeira nacional. Junto dele está a ordem. Nosso hino nos mostra como belo, forte, que não possui medo e outras palavras belas e bastante complicadas.
O Maracanã, sem dúvida, era um colosso. O maior do mundo. E mesmo com todo esse gigantismo, sempre foi acolhedor e de todos. Os geraldinos eram os maiores expoentes disso. "Eles assistiam os jogos em pé, e com uma limitada visão do campo, mas estavam no estádio. Participavam do jogo. Eram ouvidos. Algo que, hoje, não acontece mais", explica Renato.
O progresso da Copa do Mundo no país atingiu em cheio grande parte dos frequentadores dos estádios. O negócio do futebol hoje é caro demais e as "arenas" precisam ser bancadas pela iniciativa privada por meio de consórcios com grandes empreiteiras.
"Não estamos falando apenas de arenas, mas de todo um modo de olhar para o futebol não mais como um esporte, um entretenimento ou mesmo uma expressão cultural, mas sim como um produto, algo comercial que visa o lucro acima de tudo. Excluir torcedores e mudar todo o ambiente de um estádio com a gentrificação é apenas um reflexo desse processo. Como explicamos no filme, o caminho são estádios vazios e botecos com pay-per-view lotados", lamenta Asbeg.
Todas as sessões do documentário são gratuitas. Confira as datas e exibições.
São Paulo
15/04 - Reserva Cultural - Avenida Paulista, 900 - 20h
16/04 - Centro Cultural São Paulo - Rua Vergueiro, 1000 - 17h

Rio de Janeiro
16/04 - Instituto Moreira Salles - Rua Marquês de São Vicente, 476 - 20h
17/04 - Auditório BNDES - Avenida República do Chile, 100 - 19h
18/04 - Instituto Moreira Salles - Rua Marquês de São Vicente, 476 - 16h

15/04/2015 / Por Bruno Pavan / Da Redação

Fonte: Brasil de Fato

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