Pesquisa da organização Énóis
Inteligência Jovem indica que o espaço público é o ambiente mais citado por
jovens mulheres como local em que não há segurança ou em que elas se sentem
mais desrespeitadas como mulheres. Realizada com jovens de 14 a 24 anos, a
consulta foi divulgada nesta quinta-feira (21), durante o 1º Seminário
Internacional Cultura da Violência contra as Mulheres, em São Paulo.
De
acordo com a entidade, cerca de 94% das entrevistadas relataram que já foram
assediadas verbalmente nas ruas e 77% relataram que o assédio foi físico, desde
estupro até o toque ou beijo forçado na balada.
De acordo com a pesquisa, 94%
das mulheres entrevistadas já foram assediadas verbalmente nas ruas.
(Foto: Fernando Frazão/Arquivo/Agência Brasil)
“Desses 77%, 10% sofreram algum tipo de assédio por familiar ou dentro
de casa, o que é um número gravíssimo”, disse Érica Teruel, do Énois
Inteligência Jovem, organização que trabalha principalmente com temas
relacionados à educação envolvendo jovens, especialmente os de periferia.
Dos episódios de assédio físico, 72% ocorreram com desconhecidos em
transporte público, baladas ou parques, entre outros ambientes. “Essa menina
não se sente à vontade no espaço público. Ela vai para a rua e é assediada o
tempo inteiro. Ela não é respeitada, o que acaba tendo consequência no dia a
dia dela”, informou Érica.
O estudo apontou também que nove em cada dez mulheres já deixaram de
sair à noite ou usar determinada roupa por medo da violência.
“As
mulheres foram educadas para ter esse medo pela família, pela mídia e por uma
série de fatores externos. isso é terrível. Efetivamente existem mensagens
específicas para a mulher e para o homem. A pesquisa mostrou que, durante a
infância, elas aprendem que o menino pode tudo e elas não. É um fator cultural,
de tradição e herança. É isso que a gente tem de mostrar. Temos de mostrar esse
horror e colocar alguma luz sobre isso", informou Ivo Herzog, diretor do
Instituto Vladimir Herzog.
Entre as entrevistadas, 41% revelaram ter sofrido agressão física por
homem. Segundo o Énóis Inteligência Jovem, 51% dessas agressões foram
praticadas por algum familiar, 38% por parceiros e 23% por amigos. A pesquisa
indicou ainda que 47% das mulheres consultadas já foram forçadas a ter relações
sexuais com seus parceiros.
Denominada #Mulherpodetudo - como o machismo e a violência contra a
mulher afetam a vida das jovens das classes C,D e E, a pesquisa ouviu 2.285
jovens de 370 cidades brasileiras, com idades entre 14 e 24 anos e renda
familiar de até R$ 6 mil.
“A maioria
das mulheres nasceu após 1995 e tiveram esse tipo de educação [machista]. Para
mudar, temos de contar com a escola, que é um instrumento muito importante e
com políticas públicas para atingir essas meninas”, explicou Érica Teruel.
Segundo ela, a pesquisa foi feita em duas etapas.
Na primeira, 20 jovens de São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador, Brasília, Belém
e Porto Alegre foram entrevistadas de forma mais aprofundada.
“Com base nessas
entrevistas, desenvolvemos um questionário publicado online e convidamos para participar
meninas de diversas partes do Brasil. Nossa intenção era entender como a
violência contra a mulher e o machismo afetam a vida das jovens.”
A pesquisa será publicada em um ebook a
ser lançado pela organização. O 1º Seminário Internacional
Cultura da Violência contra as Mulheres, no Sesc Pinheiros, foi elaborado pelos
institutos Vladimir Herzog e Patrícia Galvão, em parceria com a Secretaria de
Políticas para as Mulheres, da Presidência da República, ONU Mulheres e
Fundação Ford. O objetivo do evento é estimular um pacto global de não
tolerância à perpetuação da cultura de violência contra as mulheres.
SAIBA MAIS:
Criado em 21/05/15
20h40 e atualizado em 22/05/15 14h56
Por Elaine Patricia Cruz Edição: Armando Cardoso
Fonte : Agência Brasil
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