Uma análise do crescente interesse
das grandes empresas em investir em tecnologia para Bike Fit, como forma de
diferenciação e satisfação do cliente.
Atualmente é possível observar uma grande movimentação no
setor mundial de Bike Fit. A compra da Retül pela Specialized, da Bike Fitting
pela Shimano e da Guru’s pela Cannondale evidencia o interesse dos gigantes do
setor de Bikes pela Ciência do Bike Fit e agora ouvimos rumores da Trek
desenvolvendo trabalhos juntamente com o SICI (Serotta Cycling Institute).
A Bikefitting, com sede na Holanda, apresenta uma história
de mais de 25 anos atuando no desenvolvimento, produção e comercialização de
equipamentos e softwares de medição e posicionamento de ciclistas na bike,
tanto estático, quanto dinâmico.
A Retül está sediada em Boulder, no Colorado - EUA, e atua
no mercado de Bike Fit desde 2007, com experiência em ciclismo, triatlo e MTB,
bem como de engenharia, biomecânica e marketing esportivo. Seu grande
diferencial foi o desenvolvimento da análise dinâmica e personalizada para cada
ciclista. Juntamente com essa linha de trabalho, projetou e desenvolveu o
equipamento que permite a análise 3D dinâmico do ciclista na bike.
Mas qual seria o grande interesse das grandes marcas do
setor de bicicletas em investir em desenvolvimento de tecnologia para Bike Fit?
Satisfação do cliente, essa é a resposta.
Atualmente, não basta oferecer aos clientes tecnologias de
materiais extremamente leves e com alto grau de resistência. É certo que os
ciclistas amadores gostam de pedalar uma bike com a mesma tecnologia em
suspensão, freios, sistema de marchas e quadro idênticos ao que o campeão do
último mundial usou para cruzar a linha de chegada. Além de tudo, eles precisam
se sentir confortáveis na bike e ainda precisam extrair dela tudo que pode
oferecer em termos de rendimento.
Então, quando pensamos em retorno do investimento na
ciência do Bike Fit para as grandes marcas, podemos dividir em dois grandes
momentos: a curto prazo e longo prazo.
A curto prazo, o ganho maior seria a satisfação do cliente
em pedalar uma bike devidamente ajustada ao seu corpo. O atual cliente se
caracteriza por possuir bom grau de instrução e bom poder aquisitivo. Esses
clientes geralmente pesquisam e leem muito antes de efetivar uma compra. Isso
faz com que eles saibam que altura e comprimento do entrepernas (cavalo) não
são medidas suficientes para a aquisição de um bike correta. De nada adianta o
fabricante investir milhões no desenvolvimento e utilização de novas
tecnologias e seu produto continuar sendo vendido com tamanha simplicidade.
Um fabricante que zela pela sua marca se importa em
desenvolver equipamentos de última geração e não quer assistir seu equipamento
ser desaprovado pelo simples fato do ciclista ter escolhido mal a sua nova bike.
Uma boa venda não é aquela onde o cliente compra a bike
mais cara da marca, mas sim aquela em que o cliente compra a bike ideal da
marca, mas que lhe permita tal prazer ao pedalar que sempre que desejar trocar
de bike retornará à loja em procura da atualização do modelo que ele já possui.
Essa fidelização é o que qualquer setor do mercado deseja.
A longo prazo, os dados obtidos por meio da tabulação de
dados dos Bike Fitters (profissionais em Bike Fit) podem e devem ser utilizados
pelas empresas que produzem componentes de bike a fim de desenvolver
equipamentos adequados para a população. Por exemplo, se a maioria das pessoas
que compraram o quadro tamanho M de determinada marca precisaram utilizar uma
mesa de 60 mm, a empresa pode então para o próximo ano lançar um quadro 3 cm
mais curto onde os ciclistas utilizarão uma mesa em torno de 90 mm. Se a
maioria das pessoas que realizam Bike Fit em determinada marca e modelo
precisaram utilizar uma mesa – 25 graus, a empresa pode lançar para o próximo
ano um modelo com stack mais baixo ou ainda mesmo já fazer com que as bikes
saiam da loja com essa configuração.
Aos poucos vamos descobrindo que Bike Fit não é feito com
prumos de pedreiro, compassos gigantes e muito menos é preciso ter pedalado
durante anos e vencido provas importantes, bem como ser dono ou funcionário de
loja durante anos não faz ninguém entender de posicionamento de ciclistas na
bike. Bike Fit é ciência, estudada e desenvolvida com base nas ciências da
saúde e engenharia.
Essa grande movimentação dos grandes nomes de empresas
fabricantes de quadros e componentes e de empresas de Bike Fit nos mostra que
em pouco tempo as pessoas que dizem fazer Bike Fit baseados em dados empíricos
e achismos serão substituídas por profissionais capacitados e equipamentos de
última geração para auxiliar o cliente no que é melhor para ele.
Hoje vemos que no Brasil os Estúdios Bike Fit têm se
profissionalizado a cada dia por meio de cursos e aquisição de equipamentos, e
cada dia mais tem sido diminuída a distância entre as lojas e os Estúdios Bike
Fit. O que no início era encarado pelos lojistas como algo que poderia
dificultar as vendas da loja, hoje já passa a ser entendido como uma
necessidade para auxiliá-los na venda do produto ideal para cada cliente. E que
um cliente satisfeito sempre retornará em busca das últimas novidades.
Até poucos anos atrás o lojista, baseado em duas medidas
subjetivas (altura do ciclista e comprimento do cavalo/altura do entrepernas),
sugeria um tamanho de quadro para seu cliente, e baseado nas sensações do
cliente ao pedalar modificava altura do guidão, comprimento da mesa e altura do
selim. O que a curto prazo, na maioria das vezes, sugere uma sensação de estar
bem posicionado, mas que com o passar dos anos pode se refletir desde uma fraca
performance até, em um caso mais sério, uma lesão.
Antigamente, caso um ciclista não se sentisse bem na bike, o lojista chegava até mesmo a trocar a bike para o cliente. Mas atualmente com o aumento dos valores das bikes, devido às tecnologias empregadas, esse tipo de erro não pode mais acontecer. E nesse sentido, os Estúdios Bike Fit vêm para assumir essa responsabilidade, isentando os lojistas de possíveis equívocos e garantindo ao cliente o total aproveitamento do equipamento adquirido.
Um dos grandes riscos dessas fusões entre empresas do
setor de Bike Fit e grandes fabricantes é que os valores sejam distorcidos e
que os lojistas passem a ter o serviço apenas como um trampolim para a venda e
troca de componentes, fazendo trocas desnecessárias visando apenas o aumento
nas vendas.
A grande tendência é que em um primeiro momento os
clientes recebam esses sistemas Bike Fit em lojas com um certo cuidado para
saber se quem está realizando seu Fit possui formação para isso ou é apenas
mais um oportunista no mercado. Outro fator é entender qual é a ciência por
trás desses sistemas Bike Fit que estão chegando ao mercado. Eles realmente
personalizam o seu posicionamento ou não passam de mais um dos inúmeros
softwares e aplicativos encontrados na internet, recheados de atrativos visuais
e tecnológicos para mascarar a falta de conhecimento e ciência de quem os
opera?
Por vezes, ouvimos falar da chegada no mercado de sistemas
que fazem o Bike Fit em menos de meia hora, onde o atendente sequer faz uma
avaliação física do ciclista. Sistemas que operam em modo Wizard. Esses são
aqueles sistemas que prometem milagres por si só, os mesmos que são vendidos
sobre a frase: “o equipamento faz tudo sozinho”. Quando ouço esses comentários
fico esperando apenas a frase: “mas ligue já, pois os primeiros a ligarem ainda
receberão um manual de instruções, certificado de garantia e um jogo de facas
Ginsu, as facas que cortam tudo e um par de meias Vivarina, aquelas que nada
cortam”.
Com certeza nos próximos anos vamos assistir a uma grande
movimentação no setor de Bike Fit e no final quem tem a ganhar somos todos nós:
ciclistas, lojistas, fabricantes e amantes do ciclismo.
(Revista Bicicleta)
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