Um mês após
o rompimento das barragens da Samarco, laudo técnico do Ibama classificou o
caso como "maior desastre ambiental do Brasil"
Um mês após o rompimento da barragem de
Fundão, em Mariana, Minas Gerais, os danos causados pelo desastre ainda não
estão totalmente contabilizados. Porém, o Ibama publicou nessa semana o seu
primeiro laudo técnico preliminar, que traça um panorama inicial dos danos
causados pela barragem da Samarco – uma empresa controlada pelas mineradoras
Vale e a australiana BHP. Mesmo preliminar, o laudo técnico já classifica o
rompimento como o “maior desastre ambiental do Brasil”.
Segundo o Ibama, a análise de toda a
área atingida pelos rejeitos de minério da barragem mostra que pode chegar a
400 o número de espécies impactadas.
Espécies da bacia do Rio Doce possivelmente
impactadas:
03 espécies de plantas ameaçadas
De 64 a 80 espécies de peixes
28 espécies de anfíbios
4 espécies de répteis
De 112 a 248 espécies de aves
35 espécies de mamíferos
Total: Entre 246 e 398 espécies
A situação mais extrema é a das
espécies de peixes. Segundo o laudo, o Rio Doce tinha onze espécies ameaçadas
de extinção, incluindo quatro definidas como “Criticamente em Perigo”. Dessas,
duas são endêmicas, só existem no Rio Doce, e portanto podem desaparecer. Ao
todo, havia 12 espécies endêmicas na área afetada. Esses peixes são os que mais
estão em perigo.
O texto também chama a atenção para
três espécies de plantas ameaçadas da região que foi soterrada pela lama: o
jacarandá-cabiúna, a braúna e o palmito. Segundo o Ibama, a lama causou a
destruição de 1.469 hectares de mata nativa, incluindo áreas de preservação
permanente (APP).
No caso de espécies de aves ou
mamíferos, o relatório acredita que os animais terão maior chance de
sobrevivência, por terem facilidade de mobilidade. Porém, ainda assim o dano
foi grande. “Provavelmente as populações de animais de porte reduzido foram
dizimadas naqueles locais onde as margens foram tomadas pela onda de lama”, diz
o texto.
Água do Rio Doce é ou não
tóxica?
O laudo técnico traz os números
oficiais sobre a quantidade de rejeito jogada no ambiente. A barragem de Fundão
tinha 50 milhões de metros cúbicos de rejeito. 34 milhões foram lançados no
meio ambiente. Destes, 16 milhões de metros cúbicos caíram em três rios –
Gualaxo do Norte, Carmo e Doce. A lama percorreu 663 quilômetros de corpos
hídricos, a maior parte do Rio Doce, até chegar no oceano.
Os testes de qualidade de água
identificaram 14 metais pesados fora dos parâmetros nos rios. Os metais mas
presentes são ferro e manganês. O laudo indica que o mercúrio, que havia sido
detectado em testes em Governador Valadares (MG), provavelmente não veio da
lama e já estava presente nos rios antes do acidente, já que a região tem um
histórico de garimpo de ouro. Porém, o Ibama considera a Samarco responsável
por esse mercúrio mesmo assim. “O revolvimento [causado pelo desastre]
provavelmente tornou tais substâncias biodisponíveis na coluna d’água ou na
lama ao longo do trajeto alcançado, sendo a empresa Samarco responsável pelo
ocorrido e pela consequente recuperação da área”.
Ou seja, o mercúrio não estava na
barragem, mas veio à tona quando a lama revolveu as águas e a empresa é
responsável por isso.
Danos sociais
O Ibama também levantou dados dos
danos econômicos e sociais. Segundo o laudo, 82% de Bento Rodrigues foi
destruído pela lama. O desastre impactou atividas econômicas como produção de
milho, café, côco e cana-de-açúcar. Na pecuária, as atividades envolvendo
bovinos e aves foram impactadas. O maior problema, evidentemente, está na
pesca. O Ibama identificou 1.249
pescadores que dependem dos rios atingidos e, portanto, perderam seus meios de
vida.
Para piorar, o desastre ainda não
acabou. Ainda há lama vazando da barragem de Fundão. E nem todos as vítimas
foram encontradas. O último número mostra que há 12 mortes confirmadas e 7
desaparecidos.
O laudo técnico pode ser
encontrado, na íntegra, no site
do Ibama.
BRUNO CALIXTO
05/12/2015 -
13h00 - Atualizado 05/12/2015 13h15
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