Ao menos, o combate ao inseto adulto pode ser potencializado
com o conhecimento indígena.
Dengue, zika, chikungunya e febre
amarela. Essa lista de doenças graves possui o mosquito Aedes Aegypti como
vetor em comum. Medindo menos de 1 centímetro, preto com manchas brancas no
corpo e pernas, o seu controle é difícil por ser versátil e depositar ovos
extremamente resistentes que sobrevivem vários meses antes do contato com a
água.
Ao menos, o combate ao inseto adulto pode
ser potencializado com o conhecimento indígena. É o que defende o pós-doutor em
Astronomia Germano Afonso, que dedica sua vida acadêmica ao estudo de como a
Astronomia Indígena contribuiu e é capaz de contribuir com a Ciência Ocidental.
(Por que Astronomia Indígena? Clique aqui)
Somente a fêmea do mosquito Aedes
Aegypti se alimentam de sangue para a maturação dos ovos (Foto: John Tann /
Creative Commons)
A
aplicação de nebulização espacial, famoso pelo nome popular de fumacê, é
utilizada para o combate ao mosquito adulto. Para o pesquisador, essa ação
deveria se focar mais na incidência dos insetos conforme a luz. Durante seu
trabalho de etnoastronomia, ele percebeu que os indígenas utilizavam a
luminosidade da Lua para dimensionar o tipo de comportamento dos animais.
“Os
índios sabem há muito tempo que todos os seres vivos, inclusive o mosquito da
dengue, ficam mais ativos devido ao brilho da Lua Cheia”, detalha. Germano
defende que, durante essa fase lunar, a aplicação de inseticidas pelo fumacê
deve ser realizada em maior quantidade por ser mais efetiva. Da mesma forma,
nas outras fases, o ideal seria diminuir a quantidade de inseticida já que os
mosquitos estariam em menor número.
Durante suas imersões em comunidades indígenas, Germano
percebeu que os indíos evitavam se expor à noite na Lua Cheia, quando ela
reflete maior incidência da luz solar, deixando o ambiente mais iluminado.
“Afinal, é nesse momento que os animais ficam mais agitados por causa da luz”,
afirma.
Popularmente conhecido como
Fumacê, a nebulização espacial visa combater mosquitos adultos (Foto:
Marcos Pertinhes - Prefeitura de Bertioga)
Aplicação do fumacê
Consultado, o
Ministério da Saúde reforça que a melhor forma de controle da infestação do
mosquito continua sendo não deixá-lo nascer. “Após o nascimento, as operações
de controle são mais difíceis, custosas e com efetividade diminuída. Por isso,
a aplicação da nebulização espacial deve ser um incremento à inspeção mecânica
de criadouros”, destaca a nota enviada pela Assessoria de Comunicação do órgão.
A assessoria não
respondeu se a aplicação do fumacê leva em consideração o conhecimento indígena
sobre a luminosidade da Lua, mas destaca que a operação depende de uma série de
detalhes técnicos tais como “horário de aplicação (pouco antes e pouco após o
nascer ou o pôr do sol), regulagem do equipamento, controle de qualidade do
“spray”, velocidade do vento, capacitação técnica dos aplicadores, entre
outros.”
Ainda conforme a
nota, a avaliação de pesquisas científicas no Brasil e no mundo sobre o combate
ao Aedes Aegypti é realizada pelos Comitês Técnicos Assessores em Imunizações e
em Dengue, do Ministério da Saúde, que reúnem especialistas e sociedades
científicas e, ainda, pela Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no
SUS (Conitec).
Há séculos, diferentes famílias
indígenas do continente americano utilizam o Céu como referência para suas
atividades agrícolas, científicas, políticas e religiosas. O astrônomo
Germano, pós-doutor pelo Observatório de Nice, explica que os conhecimentos
científicos indígenas, mesmo que não sejam tão precisos, são, muitas vezes,
vistos com desdém pela Ciência Ocidental. “Quando a gente aprende sobre a Lua,
é sempre sobre a questão da força gravitacional. Mas não é a força
gravitacional o que interessava aos indígenas, e sim o impacto do brilho da
Lua”, comenta.
Segundo
o pesquisador, o seu trabalho acadêmico visa a resgatar e valorizar o
conhecimento que diferentes etnias indígenas geraram sobre o Céu e a Terra. Ele
explica que a maioria dos povos indígenas consideram que a Terra e o Céu são
indissociáveis.
Por Leyberson
Pedrosa Edição:Noelle Oliveira
(Fonte: Portal
EBC)
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