Takamuy, o
primeiro de sua comunidade a ser militar, fala com o mesmo orgulho da farda que
veste e de suas raízes indígenas.
Belém (PA) – Dos atuais 600
índios da Comunidade Indígena Tembé, localizada a 250 quilômetros do
Quartel-General do Comando Militar do Norte (CMN), em Belém (PA), um realizou
seu sonho de infância em 2016: ser soldado do Exército Brasileiro. Takamuy, o primeiro de sua comunidade a ser militar, fala com o mesmo orgulho da farda que veste e de suas raízes indígenas.
Descreve, com convicção, quando escolheu a carreira
militar. Ele tinha apenas sete anos, sua comunidade tinha pouco acesso à
energia elétrica e apenas uma televisão, e todas as noites, os moradores
reuniam-se para acompanhar as notícias. Foi quando viu, pela primeira vez, a
propaganda do Alistamento Militar e, naquele momento, decidiu ser soldado do
Exército. Pediu orientação ao seu padrinho, que explicou como ter a
oportunidade de vestir a farda camuflada. Em 2014, a vontade aumentou quando,
na Operação Eleições, conheceu militares que faziam a segurança das eleições em
municípios vizinhos. Fez, então, contato, conversou e conheceu mais da vida na
caserna.
Para seus pais, foi uma grande surpresa ver que, desde
pequeno, Takamuy tinha convicção da carreira que queria
seguir – o primeiro de sua comunidade a vestir a farda verde-oliva. Desde
então, o incentivaram e o ajudaram, pois sabiam que a base familiar seria
fundamental para a realização desse sonho. Com alegria e dedicação de sua
família, por dez anos, o então futuro soldado estudou e conheceu a área de
selva, onde foi criado. Queriam seu filho como o primeiro militar da Comunidade
Tembé.
Em 2015, ano em que completou 18 anos, Takamuy fez
seu alistamento e, após ampla seleção, em 1º de março de 2016, incorporou às
fileiras do Exército pela Base de Administração e Apoio do CMN. Fez seu estágio
básico e, mesmo tudo sendo muito novo, não sentiu dificuldades no internato e
absorveu rapidamente todas as orientações e instruções.
O momento mais difícil da formação de um soldado na área
de selva foi o que Takamuy mais gostou: o Estágio Básico de
Combatente de Selva (EBCS), onde viu que muitos dos ensinamentos já faziam
parte do seu dia a dia, como preparação de armadilhas de animais, abrigos e
obtenção de água e alimentos. Ao relatar sua experiência, ele destaca os
ensinamentos deixados por seu avô, que o ensinou a viver do que a natureza
oferecia, da sua forma mais pura: desde pequeno ele saía todos os dias para
obter alimentos. Como resultado de sua vivência pessoal, foi o grande destaque
entre seus irmãos de farda.
Presentes na vida do filho, os pais não escondem o orgulho
e a admiração de ver o índio e soldado nas solenidades militares. Destacam
sempre a alegria e a importância de ser a base da realização do sonho do filho.
Durante a entrega da boina, no dia 12 de maio, eles fizeram questão de entregar
o facão, que o filho recebera como destaque por seu desempenho no Estágio de
Selva, prêmio que todos da família guardarão, junto com as lembranças de Takamuy, como indígena e como militar.
O Soldado Takamuy trabalha, atualmente, na reserva de
armamento. Fala com entusiasmo e sorriso no rosto do que está vivendo dentro do
Exército. Agora, o próximo passo é continuar os estudos e dedicar-se para ser
militar de carreira. Irá fazer prova para a Escola Preparatória de Cadetes do
Exército (EsPCEx) e para a Escola de Sargento das Armas (EsSA). Pensa na
saudade que irá sentir da família e de sua comunidade, mas sabe que deixará o
legado para seu irmão mais novo, que, aos 16 anos, pretende seguir os passos do
irmão militar.
Fotos: CMN
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