(Guido Nunes Rezende)
Guido
Rezende, neto do Cel. Luiz Vieira de Rezende, o segundo prefeito de Bom Jesus
do Itabapoana, por ocasião de sua 1ª emancipação, ocorrida em 25/12/1890, foi o
centro das atenções no salão da Câmara Municipal, no dia 25 de setembro
passado, em mais uma noite histórica promovida pelo ILA (Instituto de Letras e
Artes dr. José Ronaldo do Canto Cyrillo), dirigido por dra. Nìsia Campos, e que
propõe resgatar a história das duas emancipações de nosso município.
Guido Rezende brindou ao público com a rica história de seu avô, assim como da família Rezende, que veio para o Brasil nos idos de 1718.
Ao final, sugeriu que a história de nossas emancipações passem a figurar no currículo escolar de nosso município.
Guido Rezende brindou ao público com a rica história de seu avô, assim como da família Rezende, que veio para o Brasil nos idos de 1718.
Ao final, sugeriu que a história de nossas emancipações passem a figurar no currículo escolar de nosso município.
Segue o discurso...
Cumprimentando-a estendo meu abraço aos demais
componentes desta seleta mesa que a senhora convocou.
Jovens estudantes,
Minhas senhoras e meus senhores.
Fui convidado pela Drª Nísia para
falar algumas palavras sobre a nossa primeira emancipação
politico-administrativa.
Mas, também, quero dizer sobre a
participação que Bom Jesus teve no movimento em prol da Proclamação da
República. Para isto, vamos voltar no tempo, no remoto ano de 1718, quando
várias famílias vieram de Portugal para o Brasil e dentre elas a família
Rezende, da qual faço parte, então representada pelo casal João de
Rezende Costa e Helena Maria de Jesus.
Ao desembarcarem no Rio de Janeiro
seguiram, nos lombos de animais, para Minas Gerais, mais precisamente para a
cidade hoje chamada Prados, situada nas proximidades de Barbacena e São João
Del Rey. O casal “João - Helena” organizou ali a sua fazenda e criou seus
vários filhos, dentre eles merece o nosso destaque, José de Rezende Costa.
Este, homem feito, após contrair núpcias mudou-se para a
cidade que hoje leva seu nome - Rezende Costa - também em Minas Gerais onde
estruturou sua fazenda chamada “Campos Gerais”, na qual criou seus filhos. Mas
o espirito politico e sempre dinâmico fez com que ele e seu filho mais velho
que levou seu nome - José de Rezende Costa - aderissem ao movimento que vocês,
alunos, conhecem – o denominado Inconfidência
Mineira.
Liderados por Tiradentes, pai e
filho participaram de várias reuniões e ações secretas. Era um movimento
condenado e perseguido pela Coroa Portuguesa. Tendo em vista o crescimento do
número dos inconfidentes, cujos ideais ultrapassaram as fronteiras de Minas
Gerais, visando a independência do Brasil, mereceu maior cuidado por parte da
Corte. Começaram as
articulações para se descobrir o paradeiro dos inconfidentes. Mas, como sempre
acontece, houve um traidor - Joaquim Silvério dos Reis - que estava falido, negociou a entrega dos companheiros em troca do
perdão de sua dívida para com o Governo.
E, assim foi feito. Hoje em dia, estamos vivenciando novamente este fato.
Porém, a traição sofreu uma nova denominação - Delação Premiada - que nada mais
é que uma trairagem desavergonhada, mesquinha, por parte de pessoas que, pelo
que a mídia informa, pactuaram de fraudes, desvios de verbas, dentre outros, e
vem agora entregar, descaradamente, seus companheiros, em troca de diminuição
de suas penas. É pouca vergonha, é falta de ética. Mas, dentre estas delações,
cito um homem que, é bom que se diga: não faço parte de seu partido político e
nem simpatizo com seus ideais. Porém,
demonstra ser homem, tem ética e, como acompanhei pela internet ele afirmou que
prefere morrer na prisão que denunciar seus companheiros. Este homem é José
Dirceu. Não se vendeu. Mas, voltando à Inconfidência Mineira: identificados
os homens inconfidentes, todos foram presos e levados para o Rio de Janeiro.
Os “José de Rezende Costa”, pai e
filho, estavam na Fazenda dos Campos Gerais, quando foram presos. Saíram com as
mãos amarradas com corda e a outra ponta, presa na sela dos animais. Eles foram
puxados a pé. Cabeças erguidas, não olharam para trás. Seguiram seus destinos.
Do alto da Fazenda estava a esposa de José de Rezende Costa, acompanhando com
os olhos seu esposo e seu filho, até sumirem na estrada. Logo após, ela reuniu
os demais filhos e ordenou que, enquanto viva fosse, que as janelas da fazenda
permanecessem fechadas, em sinal de protesto. E, mesmo após sua morte sua
vontade foi cumprida e até hoje permanecem lacradas todas as janelas do
casario.
No Rio de Janeiro todos foram
julgados. Somente Tiradentes foi enforcado e esquartejado. Os demais foram
degredados para a África. Imaginem vocês que, até hoje, quando se fala no
continente africano, logo pensamos em distância. Na época nem se
fala.
José Rezende Costa, pai e filho,
foram para Cabo Verde. Chegando lá, mercê de suas inteligências e dinamismo,
ocuparam cargos de destaque naquele País. Sendo que o filho chegou a galgar o
cargo de Governador de uma das províncias. O José Rezende Costa, pai, não
suportando a separação de seu País e de sua família veio a falecer. O filho,
muitos anos depois teve autorização para voltar ao Brasil, onde, em Minas
Gerais, foi nomeado para altos cargos do Tesouro.
Seguindo a história, alguns
descendentes mudaram para a cidade de Queluz de Minas, hoje, Conselheiro
Lafaiete, onde meus bisavós -Major
Luiz Vieira da Silva e Carlota Carolina de Rezende- criaram seus filhos e todos se
engajaram nas ações de outro movimento político–a Proclamação da República.
Iniciou-se então, por parte dos monarquistas, os atos de repúdio aos republicanos.
Os “Rezende” fugiram de Queluz para não serem presos por ordem do Imperador Dom
Pedro II. Alguns ficaram em Miraí e os demais em Cataguazes, esta cidade
fundada por nossa família - Major Vieira e Capitão José Vieira de Rezende e
Silva. Ali participaram de várias reuniões.
Quando mudaram para nossa região,
passaram a residir em Calheiros. Meu avô, Coronel Luiz Vieira de Rezende,
organizou sua fazenda denominando-a Boa Fortuna. Hoje, já dividida, pertence a
Alamir Oliveira, Casemiro Rezende (Zé Vermelinho) e Chico Sgró.
Agora eu quero chegar onde eu
disse de nossa participação no movimento pela Proclamação da República. Coronel
Luiz Vieira de Rezende se uniu ao grupo liderado por Nilo Peçanha(este mais
tarde foi eleito Presidente do Brasil) que promoveu vários encontros nas
regiões norte e noroeste de nosso Estado. Em uma dessas reuniões, em Laje do
Muriaé, as tropas do Império invadiram o local e houve uma confusão
generalizada. Nilo Peçanha conseguiu fugir e se escondeu na Fazenda da Boa
Fortuna, ficando por lá cerca de 10 dias.Naquela madrugada as forças do
Imperador foram até à fazenda, pois tiveram informações de que Nilo Peçanha ali
se encontrava refugiado. Porém meu avô não permitiu que a tropa entrasse em sua
fazenda. Os soldados ficaram na estrada. Apenas o
comandante foi autorizado a entrar nos domínios da Boa Fortuna. Ao sair deslocou a tropa para outras localidades em
busca do paradeiro do fugitivo.
Aquela noite, em Laje do Muriaé,
ficou conhecida como a Noite das
Garrafadas.
Coronel Luiz Vieira de Rezende
participou, não só de nossa emancipação, com também da de Itaperuna, que
pertencia a Campos. Foi eleito em 10 de maio de 1889 e empossado em 04 de julho
de 1889, como vereador da primeira câmara de
vereadores do Brasil com maioria republicana, que foi a de Itaperuna. Foi o representante de Bom
Jesus do Itabapoana naquele legislativo. Vejam bem, seis meses antes da
Proclamação da República, Itaperuna e Bom Jesus do Itabapoana não mais
obedeciam ao Império. Defendiam a
tese de que o regime imperial não mais atendia às nossas necessidades. Daí
lutarem pelo regime republicano.
Mas, a intenção maior de meu avô
era a Emancipação do nosso Município. Encontrou apoio em homens idealistas.
Dentre eles, merece destaque o Coronel Pedro Gonçalves da Silva Junior (Coronel
Pedroca) que se tornou forte aliado da causa graças à sua amizade com o
Deputado Leônidas Peixoto de Abreu Lima e com o Governador do Estado do Rio,
Francisco Portela. O Presidente do Brasil era Marechal Deodoro da
Fonseca. Assim, em 24 de novembro de 1890, através do Decreto nº 150, deu-se a
nossa Primeira Emancipação. Por decisão do Governador Portela a instalação
do Município de Itabapoana aconteceu em 25 de dezembro do
mesmo ano, às quatorze horas.
O Primeiro Conselho de Intendentes durou de 25 de
dezembro de 1890 até 01 de dezembro de 1891. Ficou assim constituído: Coronel
Pedro Gonçalves da Silva Junior, Coronel Luiz Vieira de Rezende, Elias Nunes da
Silva, Francisco Teixeira de Siqueira, Manoel Antonio de Azevedo Mattos e
Joaquim Teixeira de Siqueira Reis. Foi escolhido Secretário do Conselho José
Cândido Fragozo. Coronel Pedro Gonçalves da Silva Junior foi eleito, pelos seus
pares, para presidir o Conselho, cargo que hoje corresponde ao de Prefeito.
Extinto o Primeiro Conselho de
Intendentes, face às renúncias do Presidente Marechal Deodoro da Fonseca e do
Governador Francisco Portela, foi empossado o Segundo Conselho de Intendentes, em 07 de janeiro de 1892 , permanecendo até 08 de
maio de 1892. Seus membros foram: Coronel Luiz Vieira de Rezende (Presidente),
Francisco Boechat, João de Souza Rodrigues, Joaquim Sergio Bastos, João Pedro
Lemgruber, Ricardo da Costa Soares e João Candido Fragoso (Secretário). Era
Presidente do Brasil o Marechal Floriano Peixoto e Governador do Estado do Rio
de Janeiro o Contra Almirante Carlos Baltazar da Silveira.
Com a mudança do governo do estado, assumiu o cargo
o Sr. José Thomaz Porciúncula que determinou o fim do “Município de Itabapoana”, através do Decreto nº 01, voltando Bom
Jesus a pertencer a Itaperuna como seu 10º Distrito.
Mas o povo se rebelou. Reunido na sede da então
Intendência, onde hoje é o Big Hotel, no dia 20 de junho de 1892, resolveram
não acatar o decreto e declararam a instalação do“Novo Município de Itabapoana."
Para o Conselho foram
aclamados os nomes dos senhores: João de Souza Rodrigues (Presidente), Coronel
Luiz Vieira de Rezende, José Boechat, João Pedro Lengruber, Carlos de Aquino
Xavier, Severino Teixeira de Oliveira e Antonio Simplício de Salles. Para
Secretário foi nomeado o cidadão Antonio Antunes de Siqueira. Esta Intendência
não era reconhecida oficialmente, porém mostrava ao Governo do Estado do Rio a
insatisfação do bonjesuense com a extinção do município. Os atos dos Intendentes
encerraram no dia 15 de julho de 1893.
Através do Decreto Lei nº 633, de 14 de dezembro de
1938, deu-se a nossa Segunda Emancipação. O município passou a ter a
denominação de Bom Jesus do Itabapoana e foi instalado em 1º de janeiro de
1939. É a nossa definitiva Emancipação.
Quero, encerrando, Drª Nísia, parabenizar pela
feliz decisão de, ao completar 20 anos do ILA, trazer para o conhecimento de
todos a grandeza de nossos antepassados. Sugeriria até que o tema se tornasse
parte do currículo escolar, a fim de que os jovens soubessem de nossa história
e se orgulhassem dela.
Muito obrigado e boa noite."
(Drª. Nísia Campos)
Postado por Gustavo Souza do Nascimento
(Fonte: Blog O Norte Fluminense)
>>> DIVULGAÇÃO <<<
Nenhum comentário:
Postar um comentário