Bacharelando em
gestão ambiental, Celso Barbieri Jr, que criou rede de túneis feita com canos
de PVC para abelhas entrarem e saírem, se tornou referência na criação e
proteção desses insetos em cidades.
Um estudante está fazendo um
experimento inusitado no centro de São Paulo: criar 5 mil abelhas na sala de
seu apartamento de 42 m².
Para tornar isso possível, Celso
Barbieri Jr., de 24 anos, teve de contornar alguns problemas.
O apartamento não tem sacada e ele
precisa manter a janela da sala fechada para que sua gata não fuja. A solução
foi montar as colmeias em duas caixas de madeira que ele mantém em uma
prateleira sobre a janela.
Também criou um sistema de
"túneis" feitos com canos de PVC - para as abelhas saírem para se
alimentar -, que tem até uma entrada de madeira para simular uma árvore.
Depois, o mais difícil foi pensar em
um toldo na ponta de um dos canos para evitar que as abelhas morressem atraídas
pelas luzes noturnas e fossem parar nas casas dos vizinhos.
"Queria ver se no centro da
cidade, num lugar superárido, cercado por cimento de todo lado, daria para
criar abelhas", diz.
Deu certo. Além das sensíveis
abelhas mandaçaias, ele cuida das pequenas jataís, ambas espécies nativas
brasileiras de abelha sem ferrão.
"Abro as caixas uma vez por
semana ou a cada quinze dias para ver se estão botando ovos novos e se não
houve invasão de mosca", conta. Se alguma abelha escapa, ele coloca de
volta com a mão ou deixa que voltem à colmeia pelo cano.
A namorada Paula, com quem divide o
apartamento, achou esquisito no início, mas passou a apoiar e gostar das
abelhas. Os vizinhos de prédio também. Segundo Celso, as abelhas só vão onde há
luz do sol e não os incomoda.
As jataís produzem um litro de mel
por ano e as mandaçaias, cinco litros. Também fazem própolis, mas, em condições
ideais, a produção seria bem maior. Celso não consome, pois está focado em
observar o experimento.
Como tem menos de 50 enxames, ele
precisou apenas fazer um cadastro técnico no Ibama e
informar o objetivo da sua criação, sem precisar avisar a prefeitura ou outro
órgão.
Alimentação
Na maior parte do ano não é preciso se preocupar em reforçar a alimentação das abelhas. Há flores suficientes na redondeza e ele fez uma hortinha vertical com hortelã, flores e pimenta perto das colmeias para elas coletarem pólen.
Na maior parte do ano não é preciso se preocupar em reforçar a alimentação das abelhas. Há flores suficientes na redondeza e ele fez uma hortinha vertical com hortelã, flores e pimenta perto das colmeias para elas coletarem pólen.
No inverno, coloca uma mistura de
água com açúcar dentro da caixa para compensar a falta de flores.
Com as jataís, praticamente
aposentou o guarda-chuva, pois o comportamento da abelhas seria um "ótimo
serviço de previsão do tempo". "Quando o céu está fechado e as jataís
voltam para a colmeia, sei que vai chover em uns 20 minutos, então nem saio de
casa".
Celso é provavelmente a primeira
pessoa a fazer tanto esforço para ter abelhas em apartamento em São Paulo, mas
não é o único a querer criá-las em casa.
A fila de espera para ser guardião
do grupo SOS Abelhas Sem Ferrão tem cerca de 60 pessoas - e já incluiu nomes
como o chef Alex Atala, que recebeu um enxame para sua casa.
O jovem, que se forma neste ano,
passou a ser um dos quatro administradores do grupo dois meses após participar
de um evento que viu no Facebook. Hoje, gasta pelo menos quatro
horas do dia pesquisando ou fazendo ativismo e pretende estudar o assunto em
seu mestrado.
Uma das atividades do grupo é
justamente resgatar abelhas sem ferrão em situação de risco em áreas urbanas e
distribuí-las para interessados em cuidar delas. Não é necessário fazer curso
para criá-las, mas eles dão dicas pela internet.
"Elas são inofensivas - as mais
defensivas no máximo vão enrolar no seu cabelo ou tentar entrar no ouvido - e
estão sumindo por causa do uso indiscriminado de agrotóxicos. São tão
vulneráveis e a gente precisa delas, não tem como não se afeiçoar",
afirma.
Polinização
A diversidade das abelhas é o que garante a polinização de diversas plantas e culturas agrícolas e melhora a qualidade de frutos de várias delas. Estudo realizado pela Universidade de São Paulo publicado no Journal of Economic Entomology em junho deste ano mostrou que o trabalho dos polinizadores - 90% deles são abelhas - foi responsável por US$ 12 bilhões do faturamento total de US$ 45 milhões de 40 culturas no Brasil em 2013. Entre elas estão café, soja, tomate, cacau e laranja.
A diversidade das abelhas é o que garante a polinização de diversas plantas e culturas agrícolas e melhora a qualidade de frutos de várias delas. Estudo realizado pela Universidade de São Paulo publicado no Journal of Economic Entomology em junho deste ano mostrou que o trabalho dos polinizadores - 90% deles são abelhas - foi responsável por US$ 12 bilhões do faturamento total de US$ 45 milhões de 40 culturas no Brasil em 2013. Entre elas estão café, soja, tomate, cacau e laranja.
"Cerca de 75% da alimentação
humana depende direta ou indiretamente de plantas polinizadas ou beneficiadas
pela polinização animal", afirmou a professora Vera Lucia Imperatriz
Fonseca, uma das autoras do estudo, em entrevista à revista Fapesp.
Nas cidades, explica Tereza Cristina
Giannini, autora que coordenou a pesquisa, a importância das abelhas é de
polinizar árvores e flores de parques e áreas verdes. Algumas árvores
brasileiras só são polinizadas por abelhas nativas, por exemplo.
Preocupado com a diminuição das
populações de abelhas no planeta, o empresário Alexandre Avari, de 38 anos,
está há um ano na fila de espera do SOS Abelhas Sem Ferrão. Ele já cuidava de
um ninho no muro de sua casa e entrou em contato com o grupo para saber como
salvar três enxames do muro da casa de um amigo que ia fazer uma reforma.
Recebeu as instruções, fez o resgate
sozinho e agora as abelhas do amigo estão preservadas e cercadas de flores. Mas
Alexandre tem espaço para pelo menos mais duas colmeias em sua casa. "Elas
estão aqui desde antes da gente, nós que somos intrusos, é uma questão de
educação, se a abelha escolheu aquele lugar, quem sou eu para tirar", diz
o empreendedor do ramo de inovações em tecnologia.
Educação
Ambiental
Apesar de terem realizado mais de 50 resgates em menos de dois anos de existência, a principal atividade do SOS Abelhas Sem Ferrão é a educação ambiental. São pelo menos duas palestras por mês em escolas, subprefeituras, entre outros. "Quando você não conhece, não enxerga. Eu não sabia, por exemplo, que morria tanta abelha na cidade em reforma, demolição, poda sem instrução, uso do fumacê, desconhecimento da população", diz Celso.
Apesar de terem realizado mais de 50 resgates em menos de dois anos de existência, a principal atividade do SOS Abelhas Sem Ferrão é a educação ambiental. São pelo menos duas palestras por mês em escolas, subprefeituras, entre outros. "Quando você não conhece, não enxerga. Eu não sabia, por exemplo, que morria tanta abelha na cidade em reforma, demolição, poda sem instrução, uso do fumacê, desconhecimento da população", diz Celso.
As ações, tanto presenciais, como
campanhas na internet, são direcionadas para combater o desconhecimento.
"Nem todos que vão ouvir as palestras vão querer criar abelhas, mas vão ser
guardiões mesmo sem ter enxame em casa, vão conhecer e evitar que elas sejam
atacadas".
Além dos quatro administradores, o
SOS Abelhas Sem Ferrão tem 13 conselheiros, entre técnicos agrícolas,
pesquisadores, engenheiros florestais e policiais ambientais aposentados, e já
tem unidades no Vale do Ribeira, em Guaxupé (MG), Uberlândia (MG) e Jeremoabo (BA).
Dificuldades
na cidade
Mesmo com 13 resgates no currículo, o momento mais marcante da experiência de Celso foi, entretanto, um em que não conseguiu realizar no início de outubro. Ele recebeu uma ligação sobre uma árvore cortada por empresas terceirizadas de poda pela Prefeitura de São Paulo na região da avenida Brasil.
Mesmo com 13 resgates no currículo, o momento mais marcante da experiência de Celso foi, entretanto, um em que não conseguiu realizar no início de outubro. Ele recebeu uma ligação sobre uma árvore cortada por empresas terceirizadas de poda pela Prefeitura de São Paulo na região da avenida Brasil.
"Fui na hora em que me
avisaram, mas não consegui salvar. Fico com a imagem das abelhas entrando no
tronco da árvore e saindo, dando voltas sem achar seu ninho", conta.
"Com certeza elas morreram, pois as abelhas que voaram não tinham lugar
para voltar e as larvas se afogam no próprio alimento quando deixam o tronco
deitado, e depois mandam para o aterro sanitário".
A Secretaria de Coordenação das
Subprefeituras, que realiza as podas, ao ser avisada do caso pela BBC Brasil,
respondeu que "desconhece casos de colmeias que tenham sido removidas
durante a execução de serviço de poda ou remoção de árvores, realizado por
equipes das subprefeituras, que têm acompanhamento de técnicos."
As abelhas sem ferrão são animais
silvestres protegidos por lei e sua eliminação é crime ambiental, que deve ser
denunciado à Polícia Ambiental, segundo a Secretaria do Verde e do Meio
Ambiente.
"Há uma boa vontade da
organização da Prefeitura, principalmente da Secretaria do Verde e Ambiente,
mas tem um problema com relação a empresas terceirizadas", diz Celso. Já
fizemos uma capacitação para uma dessas empresas, mas muitas vezes a gente
oferece o treinamento e não tem resposta. O ideal é capacitar os engenheiros
que fazem o laudo para a retirada das árvores".
(G1 / Educação)
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