"Hoje
o local tem cerca de 500 livros e atende 70 crianças. “Temos uma fichinha com
os dados deles, a assinatura do responsável."
Com a presença da Turma da Mônica, do Sítio do Pica-Pau Amarelo,
da Chapeuzinho Vermelho, Cinderela e Malévola, entre outras personagens de
livros e contos de fadas, cerca de 600 crianças participaram ontem (30) do
evento de encerramento da campanha Fome de Leitura, no Galpão Cultural Ação da
Cidadania, na zona portuária do Rio de Janeiro.
Promovida em parceria entre a ONG Ação da Cidadania e a Caixa de
Assistência dos Advogados do Estado do Rio de Janeiro (Caarj), da Ordem dos
Advogados do Brasil (OAB), a campanha arrecadou 16 mil livros e vai beneficiar
52 espaços de leitura e creches nos municípios de Nova Iguaçu, Duque de Caxias,
Rio de Janeiro, Belford Roxo, São Gonçalo, São João de Meriti e Queimados, da
baixada fluminense e região metropolitana do Rio.
A coordenadora de ações sociais da Ação da Cidadania, Ana Paula
Pinto de Souza, explica que o trabalho com os livros começou em 2007, após a
instituição entender que a campanha de arrecadação de alimentos iniciada em
1993 que se tornou uma tradição no fim de ano não era mais necessária.
“Tinha aquela campanha todo ano em dezembro. Na época eram
arrecadadas toneladas de alimentos que eram distribuídas em comunidades
carentes no Brasil inteiro. A partir de 2007, depois que esse tema virou
política pública e foi discutido pelo Ministério do Desenvolvimento Social,
surgiram os programas de distribuição de renda, como o Bolsa Família, os
centros de Referência e Assistência Social para atender essas famílias em
vulnerabilidade social, com esse problema da insegurança alimentar. Nesse
período a Ação da Cidadania parou de arrecadar alimentos porque a campanha de
arrecadação cumpriu o seu objetivo, e começou a arrecadar brinquedos e
livros.”
O presidente da Caarj, Marcelo Oliveira, explica que o evento de
hoje foi para marcar o fim da campanha e reforçar a mensagem da importância da
leitura na vida das crianças. “Resolvemos nos aproximar da Ação Cidadania, pela
importância que a organização tem, acompanhei o Natal sem Fome, vendo o esforço
do Betinho em relação à arrecadação de alimentos e a necessidade de chamar a
atenção para esse tema da fome no país. Pensamos então que, com essa nova
conformação da Ação da Cidadania, com esses espaços de leitura que eles têm,
que eles mantêm em várias comunidades, especialmente da região metropolitana do
Rio, que a gente poderia ajudar de alguma forma e aí surgiu a ideia da
campanha, acho que foi uma campanha bonita, a gente teve muita adesão de
editoras, de autores de livros infantis e da Imprensa Oficial do estado”.
Este foi o primeiro ano da parceria entre Ação da Cidadania e
Caarj, que deve se repetir outras vezes. De acordo com Ana Paula, muitas das
lideranças que faziam a distribuição dos alimentos passou a ajudar também com o
incentivo à leitura.
Uma das voluntárias é a professora aposentada Sônia Maria
Miranda Reis, da Biblioteca Comunitária Maria de Lourdes Miranda, em
Saracuruna, Duque de Caxias. Ela explica que o processo começou com as próprias
crianças da região indo a ela e suas irmãs Sandra e Silvana, também
professoras, para pedir ajuda com trabalhos da escola e empréstimo de livros.
Centro de Leitura
“Em 2012 Sandra começou a trabalhar numa biblioteca e resolvemos
fazer uma biblioteca. Ela funciona na varanda da minha mãe, temos muitas
crianças e estamos buscando ajuda para a gente construir a nossa biblioteca, já
temos o terreno e precisamos de ajuda para construir para trabalhar melhor com
as nossas crianças. É um lugar carente, as crianças não têm nada, então a gente
ajuda com a mediação de leitura, com um lanchinho, algumas mães parceiras
ajudam com o lanche”.
Hoje o local tem cerca de 500 livros e atende 70 crianças.
“Temos uma fichinha com os dados deles, a assinatura do responsável. Duas vezes
na semana a gente reúne com todos eles e faz a contação de história. Qualquer
dia da semana, qualquer horário, eles vão lá e pegam livro emprestado. A gente
anota o livro e o dia que vai trazer”.
Os irmãos Pedro Vinícius, 13 anos, e João Pedro Vasconcelos
Lopes, 10 anos, começaram a frequentar a biblioteca Maria de Lourdes – mãe das
três professoras – no ano passado. Eles contam que gostam de livros de aventura
e de terror. “O evento está bom demais, está envolvendo muita literatura. Eu
leio livro de ação, de aventura, terror. No evento, estou brincando, lendo
livros, comprei um, o Criaturas Monstruosas - criaturas asquerosas”, diz Pedro
Vinícius.
João Pedro diz que nasceu gostando de histórias de terror. “Eu
leio e gosto de ouvir a contação de história. Comprei Meus Terríveis Fantasmas,
eu gosto de terror, nasci assim. Fico vendo filme de terror com meu pai. O
livro conta as histórias de tudo o que aconteceu.”
Evellyn Cristine Miranda dos Santos, 13 anos, frequenta o loca,
há 5 meses, depois que amigos indicaram a biblioteca comunitária. “Lá é muito
legal, tem muitas atividades diferentes, é melhor do que ficar em casa. Gosto
de ler, as mediações são bem legais, mas eu gosto de ler sozinha. Gosto muito
de romance, estou lendo Um ano inesquecível, da Talita Rebouças”.
Vitória Regina Neves da Silva, 14 anos, diz que não conhecia a
biblioteca, apesar de ser na mesma rua em que mora, e foi apresentada ao local
no ano passado, por uma tia. “Minha tia que me chamou, a biblioteca é na rua da
minha casa e eu não sabia, aí ela foi e me chamou, então eu estou
participando., eu leio para as crianças. Eu li A culpa é das estrelas, primeiro
eu li o livro e depois vi o filme. O livro é melhor do que o filme”.
Evelin Albuquerque, 11 anos, também vai à biblioteca comunitária
para ler para as crianças menores e gosta de ler gibi. “Lá tem também, eu
prefiro os da Turma da Mônica. Lá eu brinco, leio com as crianças. Hoje
participei das atividades, a gente brincou lá, foi muito legal, gostei”.
Colaboradora e vizinha da Biblioteca Comunitária Maria de
Lourdes Miranda, Marcela Barcelos foi aluna de Sônia e hoje leva o filho Juan,
9 anos, para lá. Segundo ela, as atividades mudaram para melhor o comportamento
do menino. “A biblioteca incentiva a leitura, ele agora está gostando de ler,
muita coisa que ele não fazia agora está fazendo, lendo melhor, comunicando,
ele era muito fechado e hoje, com a biblioteca, com a ajuda delas, ele está gostando
de ler livros, uma coisa que ele não gostava. Está solto, fala tudo, comunica
melhor, era fechado, era uma pessoa nervosa, tudo isso está ajudando. A
biblioteca está sendo muito boa pra ele”.
Juan confirma que passou a se interessar mais por livros depois
que passou a frequentar o local. “Gosto de ler livro de aventura. Li um do
Minecraft, que eu gosto do jogo 'pracaraca' e um do Naruto. Ajuda a melhorar na
escola, porque elas ajudam a gente a ler os livros pra gente aprender a ler
melhor. Agora eu gosto mais de livro”.
Além dos livros e uma livraria da Imprensa
Oficial do estado com venda de exemplares a R$ 2, o evento contou com
atividades e oficinas para as crianças, exposição de esculturas feitas com
material reciclado por alunos do Colégio São Paulo, em Ipanema, uma escultura
com o rosto de Betinho – o sociólogo Herbert de Souza, fundador do projeto Ação
da Cidadania contra a Fome, a Miséria e pela Vida – montada com 10 mil livros e
um show de Bia Bedran.
Edição: Valéria Aguiar
Akemi Nitahara - Repórter da Agência
Brasil
(EBC – Agência Brasil)
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