Contato

Contato

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2016

Pela primeira vez em séculos, papa e patriarca russo vão se encontrar.


Reunião ocorrerá em Cuba; líderes das duas igrejas não se encontram desde o primeiro cisma que dividiu o cristianismo, ocorrido no ano 1054.


O Vaticano anunciou na manhã desta sexta-feira, num comunicado conjunto com o Patriarcado Russo,  que o papa Francisco vai se encontrar com o patriarca ortodoxo de Moscou, Kirill, no dia 12 de fevereiro, em Cuba. Trata-se de uma reunião que nunca aconteceu, já que os bispos de Roma (o papa) e o de Moscou (o patriarca) não se encontram desde 1054, quando um cisma dividiu as igrejas do oriente e do ocidente.  O patriarca russo tem jurisdição sobre dois terços dos duzentos milhões de ortodoxos no mundo. O abraço com Francisco em Havana é um novo e importante passo rumo ao degelo, destinado a ter consequências não apenas relacionadas ao diálogo entre o catolicismo e a ortodoxia, mas também para a paz no mundo.
Este foi o anúncio feito pelo diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé, padre Federico Lombardi.
“A Santa Sé e o Patriarcado de Moscou têm a alegria de anunciar que, pela graça de Deus, Sua Santidade o papa Francisco e Sua Santidade o patriarca Kirill de Moscou e de todas as Rússias se encontrarão no dia 12 de fevereiro. O seu encontro se dará em Cuba, onde o papa fará uma escala antes da sua viagem ao México e onde o patriarca estará em visita oficial. O encontro constituirá de uma conversa pessoal no aeroporto internacional José Martí, em Havana, e se concluirá com a assinatura de uma declaração comum. Esses encontros dos primazes da Igreja católica e da Igreja ortodoxa russa, preparado há muito tempo, será o primeiro na história e assinalará uma etapa importante nas relações entre as duas Igrejas. A Santa Sé e o Patriarcado de Moscou desejam que seja também um sinal de esperança para todos os homens de boa vontade. Convidam todos os cristãos a orar com fervor para que Deus abençoe esse encontro, para que possa produzir bons frutos.”
Cuba
O colóquio durará “duas horas”, afirmou Lombardi. No momento da troca de presentes, se juntará aos dois o presidente cubano Raúl Castro. No primeiro encontro da história entre um papa e um patriarca de Moscou, Francisco e Kirill, além de assinar uma declaração conjunta, farão cada um o seu discurso.
Raúl Castro acolherá o papa na pista do aeroporto e depois de cerca de três horas o acompanhará de volta ao avião, com o qual Francisco depois chegará à Cidade do México “no horário previsto”, assegurou o porta-voz do Vaticano, que em seguida sublinhou? “O papa e Kirill se encontrarão depois de alguns anos de preparação desse encontro. E Cuba é um lugar ‘neutro’, digamos assim, mas significativo para ambas as partes, é um cruzamento no mundo de hoje e nos seus desenvolvimentos e é um lugar bem conhecido tanto pela Igreja ortodoxa russa como pela Santa Sé, depois da visita de três papas desde 1998 até hoje.”
Rússia
Simultaneamente, na conferência de imprensa no Departamento para as relações exteriores do Patriarcado de Moscou, o metropolita Hilarion lembrou que o encontro entre o patriarca e o papa “estava sendo preparado há quase vinte anos”, mas um fator de aceleramento para o desenvolvimento desse evento histórico foi o “genocídio dos cristãos”, operado pelo terrorismo. Diante do que está acontecendo e que “preocupa” ambas as Igrejas, os dois líderes espirituais “não podiam não se encontrar”.
Hilarion afirmou também que o primeiro encontro entre os dois se dará em Cuba, e não na Europa,  porque a ilha caribenha é ao mesmo tempo “um território neutro” e onde “o cristianismo se desenvolve”, enquanto a Europa é o continente onde aconteceram os conflitos entre as duas igrejas, cujas relações ainda estão marcadas por problemas não solucionados, como o dos greco-católicos na Ucrânia.
Em 30 de novembro de 2014, no voo de retorno de Istambul, onde havia presenciado as solenes celebrações da festa de Santo André, por convite do patriarca ecumênico Bartolomeu, Francisco respondeu à pergunta de um correspondente em Roma da agência Tass, Alexey Bukalov, sobre a possibilidade de um encontro com Kirill. “Eu me comuniquei com ele – disse o papa – e ele também está de acordo, quer que nos encontremos. Disse a ele: ‘Eu vou onde você quiser. Você me chama e eu vou.’ E ele disse que tem o mesmo desejo.” “Nós dois queremos nos encontrar – continuou – e queremos ir em frente.”
Perseguições
O ecumenismo é uma prioridade para Francisco, que muitas vezes falou sobre a importância do “ecumenismo de sangue”, que vê cristãos de diversas confissões serem perseguidos: “Os nossos mártires estão gritando para nós: ‘Somos um! Já temos a unidade, no espírito e também no sangue’”, disse o pontífice.
Francisco também chegou a dizer que se deve considerar superada a via do “uniatismo”: “As Igrejas católicas orientais têm o direito de existir, é verdade. Mas o uniatismo é uma palavra de outra época. Hoje não se pode falar assim. É preciso encontrar outra estrada.” Um dos temas sempre “quentes” nas relações entre católicos e ortodoxos russos é de fato o uniatismo na Ucrânia, país onde, além dos católicos de rito oriental em plena comunhão com Roma e da Igreja ortodoxa russa, existem outras duas Igrejas ortodoxas nacionais autocéfalas.
Kirill tinha programado uma viagem a Cuba nos mesmos dias em que Francisco estará no México, 12 a 17 de fevereiro. Foi Castro quem o convidou pessoalmente, durante uma visita a Moscou em maio do ano passado. O anúncio de hoje deixa a entender que o projeto amadureceu lentamente, de forma absolutamente reservada, e que a possibilidade do encontro histórico sempre esteve presente durante a preparação da viagem ao México.
João Paulo II
Há muitos anos se fala da possibilidade de que o papa e o patriarca de Moscou se encontrem. Uma viagem a Moscou estava entre os sonhos não realizados de João Paulo II. Apesar da abertura ecumênica de Wojtyła, que na encíclica Ut unum sint se disse disponível a discutir as formas do exercício do primado de Pedro, muitas portas permaneceram fechadas. Não se pode esquecer que para os ortodoxos russos a própria origem polonesa do pontífice era considerada um obstáculo: as relações nunca foram boas entre poloneses e russos, e o bispo de Roma nascido em Wadowice era retratado como um “conquistador” católico. A decisão de João Paulo II de fundar dioceses católicas na Rússia tornou as relações ainda mais tensas.
Com a eleição do teólogo Bento XVI, a hipótese se tornou mais provável, mas não se realizou. Enquanto isso, depois da morte de Aleixo II, Kirill assumia a cátedra de Moscou.

Com informações do Vatican Insider.
Colaborou Felipe Koller



>>> DIVULGAÇÃO <<<



Nenhum comentário:

Postar um comentário