Falta de treinamento, turnos de trabalho exaustivos, má
coordenação e ordens para reprimir manifestações políticas.
Proibição à cartazes contra Michel
Temer fez Luis desistir de ser voluntário na Olimpíada (imagem: Reprodução Facebook)
Essa lista está fazendo voluntários desistirem de
colaborar com as Olimpíadas. Aqueles que permanecem à disposição da organização
revelam uma série de dificuldades.
A crise ganhou notoriedade com o caso do publicitário Luiz
Moreira, 26. Ele diz que deixou de colaborar com os Jogos porque seria obrigado
a expulsar espectadores que segurassem cartazes contra o presidente interino,
Michel Temer. “Nada é mais importante do que a liberdade de expressão”, afirma
Moreira.
O publicitário iria trabalhar nas quadras de tênis, mas nem chegou a entrar em
ação. Inscrito como voluntário há cinco meses, conta que começou a perder o
encanto pela função quando viu as protestos durante a passagem da tocha
olímpica por Duque de Caxias (RJ), cidade onde mora. Na ocasião, a Polícia
Militar usou bombas de efeito moral e gás de pimenta para dispersar os
manifestantes.
As notícias de pessoas expulsas dos locais de competição por exibirem mensagens
contra Michel Temer foi a gota d’água. Moreira reclamou que durante o
treinamento online não foi informado que teria de desempenhar essa função. A
decisão dele virou post no Facebook e houve muita repercussão. Foram mais de 25
mil curtidas, 6,4 mil compartilhamentos e 600 comentários. Ele conta que
recebeu centenas mensagens de apoio de pessoas que se sentiram representadas.
Luiz ressaltou que mesmo defensores do presidente interino concordaram com a
atitude por enxergar nela uma defesa da liberdade de expressão. Mas o
publicitário admitiu que também houve mensagens agressivas discordando de seu
posicionamento.
Sobre o fato da lei que coíbe posicionamentos políticos nos locais de
competição ter sido sancionada em maio pela presidente afastada, Dilma
Rousseff, ele alegou que está havendo um excesso na aplicação. Luis argumentou
que o texto trata de mensagens que incitem a violência, racismo e xenofobia. O
publicitário declarou que é contra todas essas formas de manifestação, mas
entende que um cartaz escrito #foratemer não se enquadra nos itens citados na
legislação.
O Comitê Organizador do Rio-2016 manifestou apoio à proibição, mas
na segunda-feira a Justiça Federal do Rio de Janeiro aceitou um pedido do
MPF (Ministério Público Federal) e proibiu a repressão de manifestações
políticas em qualquer evento olímpico.
No despacho, a decisão em caráter liminar do juiz federal
substituto João Augusto Carneiro de Araújo, do Tribunal Regional Federal,
determinou que a União, o Estado do Rio de Janeiro e o Comitê se
"abstenham de reprimir manifestações pacíficas de cunho político em locais
oficiais durante a realização dos Jogos Olímpicos de 2016" e fixou multa de
"R$ 10 mil por cada ato que viole a presente decisão".
Pouco treinamento e muito trabalho
Mas a lista de reclamações dos voluntários é maior. Morador de São Paulo, Harry
Thomas Jr. nem viajou para o Rio quando viu a escala com turnos diários de 10
horas de trabalho. Num dia, ele deveria permanecer 15 horas disponível para
organização do Rio-2016. Outra queixa foi saber os detalhes sobre as tarefas
que ia desempenhar muito próximo da abertura do evento, o que dificultou
arranjar acomodação.
"Desisti de ir como voluntário, já que enviaram minha escala (bateram o
martelo mesmo) com 30 dias de antecedência, e assim ficou impossível arrumar
lugar para ficar. A escala era todo dia das 8 horas às 18 horas e umas ia até
23 horas. É puxado", afirmou.
Uma voluntária estrangeira que trabalha na Vila dos Atletas foi
além e mencionou que mesmo com escalas tão exigentes a organização fornece uma
refeição por dia. Ela também protestou contra a falta de treinamento. Declarou
que desde a chegada ao Rio de Janeiro não teve um minuto de instrução. “Isso
aqui está muito desorganizado”, resume.
A voluntária acrescenta que o fato de os motoristas dos ônibus oficiais não
falarem inglês atrapalha. Contou que numa ocasião tentou explicar aonde o
veículo deveria estacionar e as orientações não eram compreendidas. O
supervisor dela ficou irritado, desceu e seguiu o caminho a passos largos.
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