Os medidores são ultrapassados e
deixam conta até 15% mais cara, diz especialista.
Os hidrômetros são sensíveis à passagem de ar, e o
percentual que o consumidor pode pagar pelo ar na conta de água ultrapassa os
15%, de acordo com o doutor em Saneamento e professor da Universidade Federal
do Espírito Santo (Ufes) Ricardo Franci. E quem vive em regiões mais distantes
pode pagar ainda mais pelo ar que vem com a água.
“Laboratórios de hidráulica de várias regiões do país já comprovaram a presença
de ar nas redes de distribuição sob determinadas condições. E comprovaram
também que isso pode gerar movimentação do hidrômetro, o que vai resultar em
uma medição exagerada no consumo de agua”, disse o especialista, em entrevista
à Rádio CBN Vitória.
O caso da presença de ar em tubulações ganhou repercussão depois que
consumidores do Norte do Estado e também da Grande Vitória instalaram
bloqueadores de ar na tubulação e perceberam que o valor de algumas contas
reduziu até 70% em um mês.
Fatores
Franci explicou que diversos fatores podem permitir a entrada de ar na rede de
distribuição. Manobras para operação ou manutenção da rede, bombeamentos de
água, vazamentos e principalmente, quando há rodízio de distribuição – quando a
rede alimenta regiões alternadamente – estão entre os principais fatores.
“Isso acaba criando bolsões de ar dentro da rede de distribuição que, quando
volta a funcionar, vai se movimentando dentro da tubulação”, detalhou o
especialista. Pessoas que vivem nas extremidades da rede são as mais afetadas,
segundo ele, porque são as regiões que demoram mais tempo para receber a água
em caso de interrupção e podem, com isso, receber mais ar.
Hidrômetros
Franci questionou também a qualidade dos hidrômetros. Para ele, existem
medidores mais modernos no mercado e com capacidade de medir apenas o volume de
água, descartando o ar, entretanto, “a maior parte dos hidrômetros instalados
são ultrapassados”.
Em São Paulo, que também enfrenta o problema de existência de ar na rede, o
Inmetro confirmou que os hidrômetros utilizados pela Companhia de Saneamento
Básico de São Paulo (Sabesp) são falhos e que a companhia tem conhecimento
disso. Segundo a CBN, na maior parte do país os aparelhos são mais antigos e só
funcionam quando estão cheios de água.
Procon
admite dificuldade para ressarcimento de prejuízos
Os consumidores que, após a instalação dos bloqueadores de ar se sentirem lesados com a diferença na conta de água, têm assegurado pelo Código de Defesa do Consumidor (CDC) o direito ao reparo do serviço e ressarcimento de valores cobrados a mais, segundo o Procon Estadual.
Mas o órgão informou, pode meio de sua assessoria, que o caso é complexo e só
há como definir valores de ressarcimento, por exemplo, depois de análise
profunda de cada situação, especialmente pela dificuldade de mensurar o período
exato em que o consumidor esteve sendo lesado.
Para denunciar, o consumidor precisa juntar a conta de água e outros
documentos, tais como controle dos gastos ao longo de determinado período e
outros que julgar necessário, e entrar em contato com o Procon pelo site ou
mesmo se dirigindo aos postos de atendimento.
Em seguida, informou a assessoria, a empresa será intimada a prestar
esclarecimentos e então o caso será apurado. Até ontem, o Procon informou que
não havia recebido nenhuma reclamação sobre este assunto e que, assim que
surgisse um caso concreto de denúncia, seria apurado.
Cesan
garante que não cobra a mais
Problema confirmado em casas de São Paulo
A Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo)
identificou 20 clientes que tiveram suas contas de água elevadas em razão da
existência de ar nos canos decorrente das intermitências no abastecimento. A
companhia sempre negou esse risco, mas o Ministério Público de São Paulo abriu
investigação a partir das denúncias feitas por clientes.
O diretor metropolitano da companhia, Paulo Massato, informou que cerca de 25
mil pessoas fizeram queixas à Sabesp em janeiro em razão do aumento da conta. Dessas,
502 eram relativas a ar no cano. Em 20 casos, a companhia teve de instalar ou
fazer a manutenção de ventosas, equipamentos instalados na rua que permitem que
o ar saia dos canos e não chegue aos hidrômetros (nome técnico dos medidores de
água).
Bloqueador
A companhia de saneamento também tem instalado uma espécie de bloqueador de ar
em algumas casas para impedir que os hidrômetros girem para trás. O
equipamento, entretanto, não impede que o medidor gire para a frente.
Embora dezenas de consumidores venham relatando economia de até 70% nas
contas de água, após instalarem bloqueadores de ar, a Companhia Espírito
Santense de Saneamento (Cesan) garantiu que a população não é prejudicada com
ar na tubulação.
Pelo menos é o que afirmou o chefe da divisão de Hidrometria da Cesan Eliézer
Taets que, em entrevista à CBN Vitória, ressaltou que em regiões onde o fato
possa ocorrer, a conta não é calculada com a ajuda do hidrômetro. E aparelhos
mais modernos têm custo, muito elevado, segundo ele, o que inviabiliza a
substituição em toda a rede.
E o Ministério Público informou, por meio do procurador Marcelo Lemos, que não
se pronunciaria ontem.
Fonte: gazetaonline.globo.com
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