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domingo, 29 de março de 2015

Cuidado e carinho sem nada em troca

A veterinária Patricia atende a animais voluntariamente.


Nascida de uma família mais abastada, Patricia Ribeiro de Oliveira, 38 anos, sempre sentiu o desejo de ajudar as pessoas de menor poder aquisitivo a cuidar dos animais e acabou sendo demitida de uma clínica por isso. Desempregada, Patricia transformou o problema em oportunidade e fundou o primeiro consultório popular veterinário do Estado. Hoje, é feliz facilitando o acesso a serviços considerados caros.

“Eu amo os animais desde que me entendo por gente. E foi ao lado do meu pai, Silvio Queiroz de Oliveira, um dos primeiros veterinários do Estado, nos idos anos 1980, que aprendi a exercer esse amor.

Em seu primeiro consultório veterinário, eu ajudava a segurar os animais para as cesarianas, para as coletas de sangue e foi assim que esse amor cresceu. Além disso, cachorro e gato eram meus animais de estimação. 

Depois, por questões familiares, cheguei a me formar em Pedagogia e ingressar na faculdade de Direito, mas logo vi que amava demais os animais para não realizar o sonho de ser médica veterinária. E para lapidar esse sonho estou na quarta especialização: uma pós-graduação em Endocrinologia Veterinária. 

Mas foi no mercado de trabalho que encarei um dos maiores desafios, ao perder minha única fonte de renda fixa. Fiquei desolada ao ser punida por tentar ajudar os animais. Nessa época, além das minhas consultas particulares, eu atendia em uma clínica veterinária, na Serra. 

E quando recebia pessoas com menor poder aquisitivo, jamais deixei de atendê-las. Sempre amei essas pessoas. Elas querem cuidar de seus animais e obedecem à orientação do veterinário. A reciprocidade e lealdade dessas pessoas é maior.

Desse modo, quase sempre eu dava descontos nas consultas para esses clientes, já que não poderia interferir nos preços de exames e medicamentos. Além disso, para quem recolhia animais e não podia pagar internações particulares, eu indicava o Auaubergue, de Laranjeiras, na Serra, ONG que oferece alojamento e tratamento veterinário para animais resgatados. 


Como voluntária, me tornei responsável por acompanhar esse processo. Até que a proprietária da clínica alegou que eu estava gerando prejuízos à empresa e concluiu: ‘Não quero mais você aqui. Amanhã não precisa vir mais’. Fiquei desolada, sem saber o que fazer para sobreviver e cuidar dos meus filhos Amanda, hoje com 16 anos, e João Gabriel, de 3 anos. 

Mas meus clientes que confiam no meu trabalho me acompanharam e, mais adiante, também recebi, da equipe do Auaubergue, um espaço para abrir meu consultório, livre do pagamento de aluguel.

Ali abri o primeiro consultório popular veterinário do Estado: o Mvet Popular. Inclusive, para colocar o projeto em prática, participei da Maratona de Negócios Sociais oferecida, no ano passado, pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) do Estado. Lá, ouvi palestras, desenvolvi o projeto, fui avaliada, orientada por especialistas e, para minha surpresa, até premiada com o terceiro lugar de uma maratona. Deu tão certo que hoje é uma realidade.



Se estou feliz? Estou mesmo é realizada! Querendo ou não, esses animais abandonados são da população carente, de gente que pegou e não têm condições de tratar, porque veterinário particular é caro. E se o Governo não pode oferecer assessoria veterinária para essas pessoas, porque eu não posso fornecer? As pessoas merecem uma chance de cuidar dos seus animais, e esses bichinhos, de serem felizes. 

Mas não é um sonho só meu. Agradeço a minha mãe Rosane Maria Ribeiro de Oliveira, que sempre me incentivou a seguir; à Sheila Lima, que deixou o emprego em outra clínica e hoje está conosco acreditando no projeto; e à equipe do Auaubergue pela oportunidade. 

Agradeço também às empresas que são nossas parceiras em exames diversos e medicamentos, aos meus filhos e, principalmente, a todos os meus clientes.”


Autor: Wesley Ribeiro | wesleyribbe@gmail.com

Fonte: Gazeta On line

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