William Helal Filho - O Globo
(imagem da internet, meramente ilustrativa) |
RIO
- Evolucionistas têm explicação para tudo. As nossas dores nas costas, por
exemplo, são o preço que pagamos por cérebros avantajados e por andar com
“apenas” duas pernas, em posição ereta. Nossos bebês nascem assim, tão
subdesenvolvidos e molengos, porque o caminhar ereto exige quadris estreitos e
canais de parto apertados, o que não combina com nenéns de cérebros grandes.
As
mulheres que davam à luz antes do tempo tinham mais chances de sobreviver, o
que levou a seleção natural a favorecer, e perpetuar, nascimentos “precoces”.
Tudo aconteceu ao longo de milhões de anos, até chegar o Homo sapiens.
A espécie surgida há 150 milênios passou a reinar no planeta há 70 mil anos,
depois da “revolução cognitiva”, a primeira de uma série de revoluções que,
segundo o livro “Sapiens — Uma breve história da humanidade” (Editora
L&PM), recém-lançado no Brasil, ditou e continua direcionando o caminhar da
civilização.
A
obra é uma tentativa de resumir nossa presença e nosso impacto na Terra, assim
como de especular para onde a inteligência artificial e a “revolução biológica”
vão nos levar. Tudo isso em 418 páginas, o que soa bastante pretensioso. Mas o
autor Yuval Noah Harari, um israelense de 39 anos com doutorado em História
pela Universidade de Oxford, no Reino Unido, usa amarrações inteligentes e
bem-humoradas, sempre do ponto de vista da evolução, para sobrevoar informações
que, se estivessem lá, fariam do livro uma impossível enciclopédia.
—
Muitas pessoas não conhecem bem a história da nossa espécie. A gente vê filmes,
ouve falar um pouco na escola, mas esses detalhes não se conectam. É um
problema porque o passado tem influência direta em nossas escolhas — diz, em
entrevista por telefone, o professor da Universidade Hebraica de Jerusalém,
cuja obra entrou para a lista de mais vendidos do “New York Times”, sob elogios
da crítica internacional.
Antes
da tal revolução cognitiva, o Homo sapiens não era muito
diferente dos outros animais. Mas, há 70 mil anos, começamos a pensar de forma
diferente e a criar códigos de comunicação complexos. Isto permitiu ao homem se
organizar em grandes grupos, o que foi um dos motivos para ele prevalecer
enquanto centenas de animais, inclusive outras espécies humanas, eram extintas:
—
Mas as características impressas no nosso código genético por todos os milênios
na selva continuam lá. Nossos hábitos alimentares, conflitos e sexualidade são
resultado de como as mentes de caçadores-coletores interagem com celulares,
metrópoles e tudo mais. Nosso DNA ainda acha que estamos na savana africana.
Nossas
faculdades mentais fizeram de nós a única espécie capaz de criar ficção. Foi isto,
diz Harari, que tornou possível a expansão da sociedade. Religiões, empresas e
dinheiro seriam obras de ficção. “Toda cooperação humana — seja um Estado
moderno, uma igreja medieval (...) — se baseia em mitos partilhados que só
existem na imaginação coletiva”, afirma o livro. Mas são esses elementos que
nos unem em torno das diferentes comunidades.
A
revolução cognitiva nos levou à revolução agrícola, há cerca de dez mil anos.
Há 500 anos, veio a revolução científica e 250 anos depois, a revolução industrial.
Chegou a revolução da informação, há cinco décadas, que nos trouxe à revolução
biotecnológica. Harari acha que o sapiens pode estar perto do
fim. Seria substituído por castas de humanos geneticamente modificados e
“amortais”.
—
Estamos confiando cargos de trabalho e até decisões pessoais a computadores. A
Amazon faz um ótimo trabalho usando meus dados para escolher o próximo livro
que vou ler. Os humanos estão correndo o risco de se tornar obsoletos — alerta
o autor, rejeitando o rótulo de pessimista. — Sou apenas realista.
Fonte: extra.globo.com
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