A vacina brasileira desenvolvida pelo Instituto
Butantã apresenta eficácia de até 90% contra a doença. No entanto, a pesquisa
que permite a confirmação desse resultado só será concluída no fim de 2016.
O aumento no número de casos de
dengue em São Paulo provocou uma corrida por uma vacina que proteja contra a
doença. O governador do Estado, Geraldo Alckmin, afirmou que pedirá à Agência
Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) uma autorização especial para antecipar a
produção do
imunizante que está sendo desenvolvido pelo Instituto Butantan, ainda em fase
de testes.
Pelos critérios médicos e científicos, no entanto, o pedido não
resolverá o problema neste ano. A vacina do Butantan só ficará pronta no fim de
2016, com as doses disponíveis para a população no início de 2017.
"As vacinas contra a dengue são, sem dúvida, promissoras, mas
apenas uma esperança para o combate", afirma a infectologista Rosana
Ritchmann, membro do Comitê Permanente em Imunização da Secretaria de Saúde do
Estado de São Paulo (CPAI). "Elas se mostraram seguras e oferecem
imunização. Porém, como são novas, ainda há questões que precisam ser
resolvidas e elas só ofereceriam a proteção necessária em 2017."
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Atualmente não há nenhuma vacina disponível para proteger contra a
dengue, mas existem algumas sendo desenvolvidas por laboratórios farmacêuticos
ou institutos de pesquisa.
As mais avançadas são as do Sanofi Pasteur, que está
em desenvolvimento há cerca de 20 anos, e a do Instituto Butantan em parceria
com o National Institutes of Health (NIH, na sigla em inglês). Outras vacinas
estão sendo feitas pelo GlaxoSmithKline, em parceria com a Fiocruz, pela Takeda
Pharma e pela americana Merck.
Entre todas, a do Instituto Butantan é a que apresenta os melhores
resultados. As primeiras conclusões dos ensaios de fase II, que analisam,
principalmente, a segurança e a capacidade de a vacina produzir anticorpos,
mostraram que ela tem uma capacidade de proteção de 85% a 90% contra os quatro sorotipos
da doença.
Com uma única dose, ela foi capaz de proteger 97% dos casos de
dengue do sorotipo 1, 80% do sorotipo 2, 97% do sorotipo 3 e 100% do sorotipo
4. Os estudos foram feitos com 300 brasileiros e 600 americanos, de acordo com
o Instituto Butantan.
Antes de chegar à população, entretanto, o imunizante precisa
ainda passar pela fase III, que deve ser feita com 10 000 a 20 000 pessoas para
avaliar a segurança e comprovar a eficácia das doses. O pedido que será enviado
pelo Butantan à Anvisa até o fim desta semana vai solicitar o início desta
fase. O propósito é vacinar 10 000 voluntários até o fim do ano.
"Estamos finalizando a fase II e, com esses resultados, já
podemos iniciar a III. Não vamos pular nenhuma das etapas do estudo científico,
mas queremos apressar a autorização para conseguirmos começar a próxima fase
rapidamente", explica o infectologista Esper Georges Kallás, professor da
Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo e um dos principais
pesquisadores da vacina. "De todo modo, se conseguirmos fazer isso ainda
este ano, os resultados só começarão a aparecer da metade para o fim do próximo
ano."
Proteção
- O imunizante da
Sanofi Pasteur, que já tem concluída a fase de estudos e, de
acordo com a empresa deve ser lançado entre o fim deste ano e o início de 2016,
protege contra a doença em 60,8% dos casos.
A última fase da pesquisa, que
contou com a participação de cerca de 30 000 jovens até 16 anos, incluindo 3
500 brasileiros, apresentou eficácia diferente contra os quatro sorotipos da
doença. Ela evitou mais de 70% dos casos de dengue tipo 3 e 4, e menos de 50%
das infecções por dengue tipo 1 e 2. No Estado de São Paulo, a atual epidemia é
causada em sua maior parte pelo sorotipo 1. Os 2 e 3 são os mais relacionados a
casos graves de hospitalizações e mortes.
A vacina ainda é capaz de reduzir em até 80% o risco de
hospitalização causada por complicações da dengue e diminuiu em 95% os casos
graves da doença. Para oferecer a proteção completa, são necessárias três
doses, com intervalo de seis meses entre elas. Além da baixa proteção contra
algumas cepas e a falta de estudos de longo prazo, esse é um dos pontos que
recebe a crítica dos especialistas, pois a adesão a vacinas que precisam ser
tomadas em intervalos longos costuma ser baixa e, assim, sua eficácia é
reduzida.
Para que ela seja utilizada no Brasil, um dossiê com seus resultados
precisa ser submetido à Anvisa, que avaliará a eficácia e decidirá se ela
poderá ser usada no país.
"A solução definitiva seria ter uma vacina que ofereça alta
proteção contra os quatro sorotipos da doença com uma única ou poucas doses.
Esse é o sonho dourado de todos que estudam o combate à dengue", afirma
Kallás.
Dengue
em SP - Dados
divulgados na semana passada pela Secretaria Estadual da Saúde mostram que São
Paulo teve neste ano 80 283 casos de dengue, 73,8% a mais do que nos três
primeiros meses de 2014. Pelo menos 67 pessoas já morreram desde janeiro por
complicações da doença.
No interior do Estado, um terço das 645 cidades
paulistas registrou em apenas dois meses de 2015 mais casos de dengue que em
todo o ano passado, de acordo com um levantamento do jornal O Estado de
S. Paulo.Na capital, de janeiro a 14 de março, foram notificados 15
789 casos da doença, ante 4 326 no mesmo período de 2014.
Fonte: veja.abril.com.br
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