Especialistas alertam para a superexposição detalhada na web, que pode
fazer usuários ficarem mais vulneráveis a pessoas que monitoram para cometer
crimes.
BIANCA
LOBIANCO
Rio - Saber exatamente o lugar onde a pessoa está ou qual a sua rotina.
Esse é um dos grandes problemas que surge em um momento onde a exposição diária
por meio das redes sociais é super compartilhada.
O "saber de tudo"
implica na vulnerabilidade do usuário, que entrega para qualquer desconhecido o
local onde mora, os lugares que costuma frequentar, seus hábitos e seu perfil
traçado. O uso inconsciente das redes traz uma realidade de medo em um mundo
onde tudo é "perfeito", mas onde sempre tem alguém à espreita.
Para o professor de Segurança da Informação da Universidade Federal do
Rio de Janeiro (UFRJ), Márcio Gonçalves, quem usa a Internet para fazer o mal
está atrás das pegadas digitais dos usuários.
"Os usuários estão
desamparados por questões legais e acabam esquecendo disso ao expor o lugar
onde moram, se estão passando férias na casa de praia, onde estão almoçando. As
pessoas realmente não tem dimensão do que tem por trás dessa superexposição. A
segurança da informação é um assunto que deve ser discutido à exaustão na
sociedade", pontua.
O professor também afirma que "as pegadas digitais não podem ser
tão claras a fim de deixar os usuários vulneráveis. Já que a rede mundial de
computadores quer conectar as pessoas, mas não fazer com que corram
riscos".
"Os dados passam por um servidor que armazena inclusive uma
foto deletada do aparelho do usuário. A rede seduz o indivíduo a compartilhar a
sua vida e isso o faz ser monitorado 24 horas por dia. É preciso ter
cuidado ao fazer um chek-in no lugar onde está, uma selfie na empresa onde trabalha,
ou até mesmo um post despretencioso da sua rotina pelo Facebook. Muitas pessoas
deveriam ter aula de segurança da informação, principalmente os gerentes de
bancos, que são mais visados nesses tipos de crimes", conclui.
O publicitário Danilo Sanches, de 24 anos, não se preocupa em
compartilhar informações na rede, mas toma alguns cuidados. "Faco check-in
dizendo onde estou. No trabalho, balada, academia, restaurantes onde almoço.
Isso é o que mais indica a minha rotina. Tem gente que faz check-in em casa. Eu
nao costumo fazer isso, nem habilitar a localização do tweet. Mas faço check-in
de lugares públicos, embora isso entregue todo meu itinerário.
Já o produtor musical Victor Gonzalez, de 25 anos, mantém a rede social
apenas para contato pessoal e vê nelas uma carência latente dos usuários.
"Acho inutil essa superexposição para as pessoas "comuns". Tipo
o que vou escrever? Saindo agora pro trabalho?" Isso é uma informação
inutil que você nao precisa compartilhar com as pessoas. Era como se se
fossemos carentes por atenção. Eu só mantenho o Facebook porque existem pessoas
que só tenho contato por aquela rede social", justifica.
Para o delegado-titular da Delegacia de Repressão a Crimes de
Informática (DRCI), Alessandro Thiers, o mau uso da Internet é extremamente
prejudicial à segurança do indivíduo. "Pessoas compartilham onde estão o
tempo inteiro. Acabam por usar a Internet como um diário.
Os bandidos também
ficam ligados nessas coisas, nos detalhes", afirma ele, que faz uma
observação quanto aos dados pessoais que foram vazados em páginas na
Internet. "As pessoas estão tão vidradas no fato de o número do Cadastro
de Pessoa Física (CPF) ter sido divulgado, que esquecem que divulgam o
endereço, o telefone, além de outras informações mais pessoais.
Tudo isso fica
registrado na rede, aumentando ainda mais o risco que as pessoas correm. Todo
tipo de crime pode ser cometido pela Internet", alerta ele, que explica
que apenas a divulgação dos dados não configura crime.
No entanto, se a existência deste tipo de site não configura uma
consequência penal, as páginas podem, sim, causar consequências cíveis.
"As pessoas podem se associar e ajuizar uma ação conjunta junto ao
Ministério Público Federal, já que os dados estavam sendo usados para fins
lucrativos, com anúncios do Google na página. Além das informações terem sido
obtidas sem o consentimento do usuário, o que caracteriza ato ilícito",
afirma o professor de Direito da Pontíficia Universidade Católica do Rio de
Janeiro (Puc-Rio) Marcos Barbosa.
Além dos sites que divulgam os CPFs, há também os que estão divulgando o
número do Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica (CNPJ). Segundo a procuradoria
de São Paulo, há 23 denúncias sobre o site NomesBrasil.com nos estados do Rio
Grande do Sul, Espírito Santo, Ceará, Bahia, Rio Grande do Norte, Alagoas,
Paraíba, Rio de Janeiro, Pernambuco, Goiás e São Paulo. Já sobre o CNPJBrasil,
foram realizadas denúncias no estado do Rio, nas cidades de Niterói, São João
de Meriti e na capital fluminense.
Em São Paulo, as denúncias foram distribuídas aos procuradores, mas
ainda não há nenhum parecer sobre o caso. Várias denúncias estão sendo
concentradas na procuradoria do Ceará, já que foi lá que surgiu a primeira
reclamação. No dia 30 de abril, um procedimento foi instaurado e está no
gabinete da procuradora Nilce Cunha, ainda sem decisão.
Fonte: O Dia
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