Para diretor de relações internacionais da
Federação Única dos Petroleiros, é só na mão da Petrobras que o
desenvolvimento, segurança ambiental e energética serão garantidos.
Em entrevista no domingo, 2 de maio, o ministro das Minas
e Energia, Eduardo Braga (PMDB-AM), durante entrevista realizada antes da
Offshore Technology Conference, em Houston, nos Estados Unidos, deixou abertas
duas portas perigosas. Acenou com mudanças no marco regulatório do pré-sal
e abrandamento da norma de conteúdo local, que determina à Petrobras a compra
preferencial de equipamentos e serviços de origem nacional.
Verdadeira sinfonia para os ouvidos das grandes
petroleiras estrangeiras, como Shell, ExxonMobil, Chevron, BP e Total.
Até agora, Eduardo Braga não desmentiu a entrevista, que saiu em
vários veículos da mídia brasileira.
Para João Antônio de Moraes, diretor de relações
internacionais da Federação Única dos Petroleiros (FUP), é muito grave a
declaração de Braga nos EUA.
“Onde já se viu abordar uma questão estratégica para o
Brasil, fora do Brasil, num lugar onde a disputa pelo petróleo é gigantesca?”,
critica. “Se já está havendo pressão sobre o Congresso Nacional para
flexibilizar a partilha, com essa declaração absurda, a tendência é que a
pressão só aumente.”
Nota da FUP (na íntegra, abaixo) publicada nessa
quinta-feira (7) lembra: “Só o PSDB já tem três projetos em andamento no
Congresso para alterar o modelo de partilha e retirar da estatal o papel de
operadora única”.
Têm projetos para abrir o pré-sal às petroleiras
internacionais os senadores tucanos José Serra, Aloysio Nunes e
o deputado federal Jutahy Júnior. O deputado federal Leonardo
Picciani (PMDB-RJ) também projeto nessa linha.
Moraes adverte: “Flexibilizar a partilha, não garantir a
Petrobras como operadora única do pré-sal e abrandar a exigência de conteúdo
local, como prega o ministro, significam abrir as portas para o Brasil ser
saqueado novamente nos seus recursos naturais por interesses externos como já
aconteceu ao longo da história, com o pau-brasil, o ouro, por exemplo”.
Ele enfatiza: “A operação só nas mãos da Petrobras nos garante
desenvolvimento, segurança ambiental e segurança energética. Essas três
coisas ficariam fragilizadas se empresas estrangeiras entrarem na operação”.
Ele denuncia: “Se o Brasil abrir a operação para as petroleiras
estrangeiras, podemos dizer adeus aos royalties do petróleo para Educação e
Saúde. No mundo inteiro, a história das petroleiras é uma história de não
cumprimento da destinação social das riquezas”.
Segue a íntegra da
nossa entrevista.
Viomundo — O que
achou da declaração do ministro Eduardo Braga nos EUA?
João Moraes – Muito grave. Onde já se viu abordar uma questão
estratégica para o Brasil, fora do Brasil, num país onde a disputa pelo
petróleo é gigantesca? Se já está havendo pressão sobre o Congresso Nacional
para flexibilizar a partilha, com essa declaração absurda, a tendência é que a
pressão só aumente. Lembre-se de que há no Congresso vários projetos de tucanos
que visam justamente flexibilizar o modelo de partilha no pré-sal.
Viomundo – O que
acontece se o Brasil alterar o modelo?
João Moraes — Flexibilizar a partilha, não garantir a Petrobras
como operadora única do pré-sal e abrandar a exigência de conteúdo local
significam abrir as portas do Brasil para que seja saqueado novamente nos seus
recursos naturais por interesses externos, como já foi ao longo da história,
com o pau-brasil, o ouro, por exemplo.
Definitivamente, se
o povo brasileiro não garantir esses três sustentáculos do modelo brasileiro, o
ciclo econômico do petróleo vai repetir o que já aconteceu em outros ciclos
econômicos. Vai embora o recurso natural, não fica o desenvolvimento aqui.
Então, nós temos de realmente nos mobilizar para impedir que iniciativas
para alterar o modelo de partilha tenham sucesso.
Viomundo – Em
que setor do pré-sal as petroleiras internacionais podem atuar?
João Moraes – O modelo de partilha permite que elas invistam junto
com a Petrobras. Foi o que aconteceu no campo de Libra, na Bacia de Campos, Rio
de Janeiro. Em Libra, a Petrobras ficou com 40% dos investimentos, os
europeus (Total e Elf), também com 40%, e os chineses com 20%.
Na verdade, o
modelo de partilha só não permite atuar na operação. A declaração do ministro toca
justamente nesse ponto. A declaração dele e os projetos dos tucanos no
Congresso Nacional vão todos no mesmo sentido: o de abrir a operação do pré-sal
para as petroleiras estrangeiras. Em resumo, é isso que eles e elas querem.
Viomundo – Qual o
mérito da partilha?
João Moraes – As empresas estrangeiras podem investir junto com a
Petrobras, mas quem vai operar é a Petrobras.
Viomundo — O que
significa operar?
João Moraes – É a Petrobras que vai pegar esses investimentos,
comprar os equipamentos, desenvolver os projetos e o mais importante –
depois vai controlar a produção de petróleo. A Petrobras é que vai dizer
se vai vai produzir 100 mil, 200 mil, 300 mil barris.
Viomundo — Com isso
o que o Brasil tem a lucrar?
João Moraes – Primeiro, a garantia do conteúdo local, porque as
empresas estrangerias não estão cumprindo o conteúdo local nas áreas em que
atuam.
Viomundo – Não
estão cumprindo?!
João Moraes – Não. Elas encontram um monte de subterfúgios para não
comprar aqui. A Shell, por exemplo, é a segunda produtora no Brasil. Ela
tem ativos importantes nas áreas já licitadas do pré-sal. Mas a Shell não tem
nenhuma plataforma encomendada aos estaleiros brasileiros.
Se flexibilizar o
pré-sal vai acontecer o que já acontece com áreas licitadas antes da lei da
partilha.As petroleiras estrangeiras não cumprem o conteúdo local. Não
cumprindo o conteúdo local, elas não geram emprego aqui, não geram renda aqui,
não geram desenvolvimento aqui. Essa é uma etapa importante do ponto de vista
do desenvolvimento.
Viomundo – O que
Brasil tem a ganhar mais com o modelo de partilha?
João Moraes — Soberania energética e meio ambiente. Por que
aconteceu aquele acidente importante da Chevron, no Campo de Frade, em
2012? Por que a Chevron avançou na produção além do que podia e dos
equipamentos que detinha. Isso causou uma fratura no subsolo do oceano,
provocando dano ambiental muito grande.
Viomundo – Mas a
Petrobras não está livre de produzir danos ambientais.
João Moraes – Não está. Nenhuma petroleira está livre disso. Mas os
mecanismos de pressão do povo brasileiro sobre a Petrobras são muito maiores do
que sobre as petroleiras estrangeiras. Então, a Petrobras como operadora
única nos dá uma garantia ambiental muito maior do que as estrangeiras.
Viomundo – O que
mais o Brasil tem a lucrar mais com a partilha?
João Moraes – Impedir a produção predatória. Qual é o grande
dilema que a Argentina vive hoje em dia? A Argentina privatizou a YPF. A
maior empresa que assumiu foi a Repsol espanhola. A Repsol começou a ter
produção predatória , não investiu em desenvolvimento de novas reservas nem em
novas tecnologias. Resultado: hoje a Argentina é dependente da
importação de petróleo e gás.
Viomundo — Por quê?
João Moraes — Justamente porque não era uma empresa estatal
nacional que detinha a operação. Então esse é outro aspecto muito negativo
dos projetos dos tucanos que estão no Congresso e buscam garantir a
entrada de estrangeiras na operação.
A operação só nas
mãos da Petrobras nos garante desenvolvimento, segurança ambiental e segurança
energética. Essas três coisas ficariam fragilizadas se empresas estrangeiras
entrarem na operação.
Viomundo – Pela lei
da partilha foi criado um fundo social – o Fundo Social Soberano – que prevê a
destinação dos royalties para Educação e Saúde. As petroleiras estrangeiras
fariam isso?
João Moraes – De jeito nenhum. A história das petroleiras no mundo
é uma história de não cumprimento da destinação social das riquezas. Então,
essa batalha importante que tivemos para garantir os royalties para Educação e
Saúde vai para o espaço se a operação do pré-sal for aberta para as
empresas estrangeiras. Portanto, é muito ruim se acontecer isso que o ministro
Eduardo Braga disse.
Viomundo – Nos
últimos meses, estamos assistindo ao acirramento na disputa do petróleo
brasileiro. Teria a ver com as denúncias da Lava Jato?
João Moraes – Tudo isso é fruto da campanha de desmoralização da
Petrobras desenvolvida pela grande imprensa nos últimos meses. Não tem a ver
com corrupção. É uma campanha antinacional. É uma campanha antipatriótica como
se as nossas grandes redes de comunicação fossem de outros países e estivessem
fazendo aqui uma campanha de interesse delas.
Portanto, é um
absurdo sem tamanho, nessa conjuntura, um ministro de Estado ir lá fora e dar
uma declaração tenebrosa como a que deu.
Mesmo que o governo
tivesse a intenção, o ministro não poderia fazer essa declaração.
Porque ao fazê-lo, se um dia isso vier acontecer, a Petrobras vai estar
com o preço rebaixado.
Olhando pela lógica
do capital, mesmo que fosse uma decisão de governo fazer isso – o que eu não
acredito que seja –, ele não poderia declarar isso no exterior. Realmente um
despreparo, um absurdo. É um negócio descabido.
Viomundo – A FUP
pretende fazer algo em relação a isso?
João Moraes — A direção da FUP está reunida, aqui, em Curitiba,
nesta quinta e sexta em Curitiba, onde vamos discutir o assunto. Nós trouxemos
a nossa reunião mensal para cá como forma de darmos a nossa solidariedade.
Na quarta-feira, inclusive, participamos de atos de solidariedade aos
professores.
Mas, desde
já, a sociedade tem de estar ciente. Se houver flexibilização no
modelo de partilha do pré-sal, o povo brasileiro pode dizer adeus ao Fundo
Social e ao uso dos seus recursos para a Educação e Saúde.
*
Tirem as mãos do
que é nosso!
Em vez de
fortalecer a Petrobrás, ministro de Minas e Energia quer flexibilizar partilha
Enquanto a Petrobrás
recebia o prêmio OTC Distinguished Achievement Award for Companies,
Organizations and Institutions, o maior reconhecimento de uma operadora
offshore por tecnologias desenvolvidas e desafios vencidos, o ministro de Minas
e Energia, Eduardo Braga, pregava publicamente a redução da participação da
estatal na exploração do pré-sal.
Em entrevista
coletiva aos jornalistas que cobriam o evento em Houston (EUA), o ministro do
PMDB não mediu palavras e anunciou que o Congresso (onde seu partido comanda a
Câmara e o Senado) está aberto a alterar o modelo de partilha.
“O que se discute é
a obrigatoriedade da operação. Defendo que a Petrobrás tenha direito à recusa”,
declarou, alegando que a empresa não tem condições hoje de “alavancar os
investimentos que a economia brasileira necessita”.
Na mesma linha foi
a diretora geral da ANP, Magda Chambriard, que também participou da feira de
petróleo em Houston e defendeu “uma flexibilização muito bem calibrada” da lei
do pré-sal, com vistas aos leilões futuros.
Declarações deste
tipo reforçam e alimentam os ataques da oposição contra a Petrobrás. Só o PSDB
já tem três projetos em andamento no Congresso para alterar o modelo de
partilha e retirar da estatal o papel de operadora única.
A defesa
intransigente da soberania é um compromisso que deve ser honrado por um governo
eleito pelos trabalhadores. A hora é de fortalecer a Petrobrás para que siga
avançando na exploração do pré-sal, cuja riqueza deve ser servir ao povo
brasileiro e não às multinacionais.
09/05/2015 / Por Conceição Lemes /
Do Viomundo
BRASIL DE FATO
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