PETRÓPOLIS, 14 Mai. 12
/ 02:32 pm (ACI).-
Cerca de 80.000 documentos começaram a ser analisados numa pesquisa que visa
oferecer à Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro, subsídios para a
abertura do processo de beatificação da Princesa Isabel (1846-1921).
Dom Orani
João Tempesta, arcebispo Metropolitano do Rio encarregou a tarefa de traçar um
primeiro perfil biográfico da piedosa e caridosa vida da princesa ao o Prof. Hermes
Rodrigues Nery, quem enviou um artigo à nossa redação contando as suas
descobertas.
O prof. Nery, que
também é coordenador do Movimento Legislação e Vida, da Diocese de Taubaté e
propositor do pedido feito a Dom Orani João Tempesta, em outubro do ano
passado, passou a semana do 7 a 13 de maio em Petrópolis, para aprofundar os
estudos da vasta documentação do Arquivo Histórico do Museu Imperial.
Segundo o Prof.
Rodrigues Nery, os documentos pesquisados até o momento confirmam os sinais de
santidade da princesa, que foi três vezes regente do Brasil, associando-se de
modo ativo no movimento abolicionista, tendo protagonizado a libertação dos
escravos no Brasil, há 124 anos.
O bispo-auxiliar da
Arquidiocese do Rio de Janeiro, Dom Antonio Augusto Dias Duarte contou
anteriormente em nota recolhida pelo portal da arquidiocese que
"conhecendo com mais detalhes a vida dessa regente do Império brasileiro e
conversando com várias pessoas sobre a sua possível beatificação e canonização
num futuro próximo, fico admirado com suas qualidades humanas e sua atuação
política, sempre inspirada pelos princípios do catolicismo".
Dom Antonio destacou ainda a falta de conhecimento destes aspectos da vida da
princesa assim como a "presença régia dessa mulher – esposa, mãe, filha,
irmã, cidadã" sobretudo, "na sua função de uma governante incansável
na consecução de uma causa que se arrastava lentamente no Império desde 1810: a
libertação dos escravos pela via institucional, sem derramamento de
sangue".
A vida da princesa
Isabel surpreende os atuais estudiosos que, a cada dia, vão descobrindo fatos e
feitos pouco conhecidos pelos brasileiros. Em uma recente entrevista o Prof.
Hermes Nery explicava que "escritos da Princesa D. Isabel (cartas, diários
e apontamentos) dão uma dimensão exata da sua fé católica solidíssima, e de
como viveu de modo exemplar a coerência dos princípios e valores do Evangelho,
tanto na vida pessoal quanto pública".
"Suas opções e
decisões estavam pautadas no humanismo integral, e deixou a melhor impressão de
sua vida virtuosa em todos que conviveram com ela, tendo o respeito inclusive
de seus adversários", afirmou o Prof. Nery.
"Escritos de
intelectuais e autoridades da época e mesmo durante o século XX (apesar do
patrulhamento ideológico e da conspiração do silêncio que sofreu), atestam suas
inúmeras qualidades e virtudes, e o quanto a sua firme adesão à fé foi um dos
elementos que fizeram tantos temerem o 3º Reinado”, destacou também.
Há relatos também do
povo, de pessoas que conheceram a Princesa e receberam dela acolhida e apoio, e
gestos concretos de quem soube exercer com elevada consciência a caridade
cristã.
Prof. Rodrigues Nery
ressaltou ainda: "Lembro-me, por exemplo, como ex-salesiano que sou, de
que o Liceu Coração de Jesus, em São Paulo, foi construído em 1885, com auxílio
da Princesa, com objetivo de oferecer aos negros libertos a oportunidade de estudar
lá gratuitamente".
"Houve na
Princesa D. Isabel uma grande sintonia com a doutrina moral e social da Igreja, tão bem expressa
pelo Papa Leão XIII, com quem ela se correspondia. E como São João Bosco (com
quem ela se encontrou pessoalmente em Milão, em 1880), um dos sinais evidentes
de sua santidade foi como suas ações estiveram tão de acordo com o que a Igreja
expõe em seu Magistério, e como as consequências destas ações foram tão
benéficas para toda a sociedade."
Em dezembro de 2011,
assessores do Vaticano estiveram com o Vigário Episcopal para a Vida Religiosa
da Arquidiocese do Rio de Janeiro, Dom Roberto Lopes, OSB, o prof. Hermes
Rodrigues Nery e dom Antonio de Orleans e Bragança, membro da Família Real, e
receberam dados sobre a vida da princesa Isabel que justificariam a abertura do
processo de sua beatificação.
Foi solicitado então
um primeiro retrato biográfico para viabilizar os procedimentos visando
oficializar o processo. O estudo ficou ao encargo do prof. Hermes Rodrigues
Nery, que esteve em Petrópolis, na semana de 7 a 13 de maio de 2012, fazendo
pesquisas no Arquivo Histórico do Museu Imperial, cujo acervo abriga cerca de
80.000 documentos referentes ao estudo em questão.
Trata-se de uma vida
muito bem documentada, desde seu nascimento até sua morte (no exílio em Paris),
daí a riqueza de informações que estão ajudando os especialistas a reverem
inclusive aspectos da história brasileira, e a atuação da princesa Isabel
enquanto modelo de fé e política, a partir dos princípios e valores
cristãos.
Em seu discurso na
catedral de Petrópolis o Prof. Hermes citou um dos primeiros e mais claros
testemunhos da vida de santidade de princesa, recordando que em 20 de maio de
1888, no contexto de uma missa para celebrar a abolição da
escravatura , o Barão de Paranapiacaba expressou publicamente: "Oxalá veja
um dia o mundo católico a vossa beatificação e a Igreja acolha também em seu
seio a Santa Izabel brasileira".
Nenhum comentário:
Postar um comentário