Na última década, o programa Água para Todos, do governo
federal, promoveu uma revolução na vida de milhões de brasileiros que vivem na
região do Semiárido, no Nordeste e Sudeste. Desde 2003, 1 milhão e 100 mil
cisternas foram construídas em 10 estados da região, garantindo o abastecimento
de água para o consumo e a produção de alimentos de mais de 5 milhões de
pessoas que vivem em zonas rurais carentes.
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Segundo dados do Ministério da Integração Nacional (MI), pasta
hoje responsável pela coordenação do projeto, de 2011 a março de 2015, foram
construídas mais de 823 mil cisternas voltadas para o consumo. O número
corresponde a 13,1 bilhões de litros de água em capacidade de armazenamento. No
mesmo período, outras 110 mil foram construídas para a produção de alimentos. O
investimento é de R$ 4,2 bilhões, segundo o MI.
O sertanejo Raimundo Rodrigues Pessoa, de 48 anos, morador de
Itapipoca, no Ceará, viu a vida da família mudar em 2010, quando uma cisterna
para consumo foi construída em casa. Acostumados a passar por longos períodos
de seca, os filhos e a mulher sofriam com o consumo de água contaminada.
"Hoje minha água mineral é a minha cisterna", diz a esposa de
Raimundo, Maria das Dores Soares, de 44 anos.
Dois anos depois, uma cisterna para a produção alimentar abriu as
portas para Raimundo plantar e vender abacaxi, cebolinha, chuchu e banana. A
renda da família aumentou para mais de R$ 1 mil por mês. Com a melhora nas
condições de produção, Raimundo também passou a criar porcos e galinhas.
"Nunca imaginei um quintal com tanta comida", conta o agricultor.
A tecnologia é simples e de baixo custo: a água da chuva é captada
do telhado por meio de calhas e armazenada nas cisternas construídas com placas
de cimento, permitindo que uma família de até cinco pessoas possa ter água para
beber e comer por até oito meses.
"Se uma pessoa usar um satélite e abrir o mapa daqui, ela vai
ver que está cheio de pontos verdes. Esses pontos são plantações no meio do
Semiárido. Isso só foi possível por causa das cisternas", atesta o
agricultor familiar Abelmanto Carneiro de Oliveira, de 42 anos, em depoimento
ao Portal Brasil. Morador de Riachão do Jacauípe, na Bahia, Abelmanto afirma
que a construção das cisternas mudou a rotina da região e a ajudou a reduzir o
êxodo rural. "Vejo agricultores voltando para o campo com liberdade para
trabalhar naquilo que mais gostam", diz ele.
Casado e pai de uma menina, Abelmanto foi contemplado com a
construção de uma cisterna para produção alimentar em 2008. De lá para cá,
apostou na diversificação. "Garanto uma alimentação saudável para minha
família e vendo a produção excedente. Aqui eu planto cebolinha, alface,
coentro, quiabo, beterraba, cenoura, melancia, manga... A lista é grande",
brinca ele. A família também cria 47 cabras e ovelhas e 45 galinhas.
O Programa tem duas diretrizes. Pelo Primeira Água, são
construídas cisternas de 16 mil litros para captação e armazenamento de água
para consumo. Participam famílias com renda mensal de até meio salário mínimo
por pessoa ou renda total de até três salários mínimos. Já o Segunda Água
amplia a captação de água para 52 mil litros por unidade e atende a produção do
pequeno agricultor que atua no Semiárido. Fazem parte do programa apenas
famílias beneficiadas pelo Primeira Água.
Segundo o titular da Secretaria Nacional de Segurança Alimentar e
Nutricional do MDS (Sesan), Arnoldo de Campos, as tecnologias de água para
produção são prioridade do Água para Todos. "Com essa tecnologia os
agricultores garantem o sustento da própria família e também podem
comercializar o excedente, gerando renda. Para Campos, as cisternas são
fundamentais para a produção da agricultura familiar. "Precisamos avançar
mais na construção desses reservatórios e integrar essa ação a outras políticas
de apoio", observa Campos.
O projeto faz parte do Plano Brasil Sem Miséria e foi concebido a
partir da necessidade da universalização do acesso e do uso da água para
populações carentes e o reforço da segurança alimentar. Integram o programa os
ministérios do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS) e do Meio Ambiente
(MMA), com o apoio da Fundação Nacional de Saúde (FUNASA), da Fundação Banco do
Brasil (FBB), do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES),
da Petrobras, da Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do
Parnaíba (CODEVASF), do Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (DNOCS),
a Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE) e os Estados.
Fonte: Portal Brasil
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