Levantamento feito em 175
pontos de coleta revela situação crítica no estado.
MARIA LUISA BARROS
Rio - A
menos de 500 dias para os Jogos Olímpicos, a despoluição dos rios cariocas e
fluminenses continua sendo um dos maiores desafios para o estado. Com o projeto
mais caro, orçado em R$ 28,8 bilhões, e sete anos para se preparar para as
competições esportivas, a cidade não conseguiu melhorar a qualidade de suas
águas.
No mais
amplo mapeamento já feito até hoje em rios, córregos e lagoas de seis estados
brasileiros, a Fundação SOS Mata Atlântica chama a atenção para a piora na
qualidade da água no Brasil, sobretudo nos estados do Rio e São Paulo, afetados
pela crise hídrica.
Na cidade
do Rio de Janeiro, o estudo detectou uma piora em dez dos 15 pontos analisados,
entre março de 2014 e fevereiro de 2015, quando as amostras foram coletadas.
Dez locais estavam ruins e só cinco ficaram dentro dos padrões regulares. São
eles: Canal do Jockey, Rio Cabeças, Rios dos Macacos (Jardim Botânico), Rio
Carioca (Flamengo) e Canal Visconde de Albuquerque (Leblon).
A situação
é crítica nos canais do Mangue, do Jardim de Alah e de São Conrado e nos rios
Maracanã, Joana e Trapicheiros. No ano passado, nove pontos estavam regulares e
seis, ruins. Nenhum rio ou lagoa analisado na capital atingiu os níveis bom ou
ótimo.
Em todo o
estado foram analisados 175 pontos em 12 rios, além da Lagoa de Araruama, que
atravessa seis localidades. Assim como na cidade do Rio, nenhum foi considerado
ótimo. Em outros 120 locais, a qualidade da água dos rios e lagoas apresentada
era regular; e em outros 16, ruim.
Em apenas
39 pontos, a análise foi boa. Alvo de uma disputa acirrada, as águas da Bacia
do Rio Paraíba do Sul, que abastecem cerca de 15 milhões de pessoas em São
Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais, foram consideradas regulares.
“A falta da
água na Região Sudeste é agravada pela indisponibilidade decorrente da poluição
e não só pela falta de chuvas”, alerta Malu Ribeiro, coordenadora da Rede das
Águas da Fundação SOS Mata Atlântica.
Segundo a ambientalista, os rios classificados como ruins e péssimos não podem ser utilizados para abastecimento humano e produção de alimentos, diminuindo bastante a oferta de água.
Para a
pesquisadora, é essencial recuperar os rios em áreas urbanas e investir em
saneamento, gestão dos resíduos sólidos e na recuperação das áreas de
preservação. “A situação no Rio infelizmente não é boa. A falta de coleta de
lixo, o uso intensivo de agrotóxicos e o desmatamento deixou o estado numa
dependência muito grande de São Paulo e Minas”, diz.
Calor
afetou a capital
Se por um
lado a estiagem afetou o abastecimento em São Paulo, por outro diminuiu o
escoamento de poluentes para os rios e córregos do estado, que são levados
pelas águas da chuva. “Com a seca, os pontos monitorados deixaram de receber
lixo, óleo, poeiras, fezes de animais e foligem de veículos”, explica a
pesquisadora Malu Ribeiro.
Em São
Paulo, dos 53 pontos de coleta, o percentual de amostras com qualidade regular
subiu de 30,2% para 50,9%. Assim como no Estado do Rio, nenhum dos pontos
analisados foi avaliado como ótimo. Nos rios da capital fluminense o processo
foi outro. Além do despejo de esgoto e lixo nas margens dos rios, o calor
favoreceu a formação de algas que consumiram o oxigênio da água, provocando mau
cheiro e perda da qualidade.
A coleta
para o levantamento, que tem como base a legislação do Conselho Nacional do
Meio Ambiente (Conama), é realizada por meio de um kit que analisa 16
parâmetros, entre eles os níveis de oxigênio, o PH e o aspecto visual. A água é
classificada em pontos que vão de 14 (péssimo) a 40 (ótimo).
A
iniciativa da Fundação SOS Mata Atlântica é aberta à população em geral, que
pode participar dos grupos de monitoramento ou ajudar a criar novas equipes
para acompanhar a situação de rios próximos a escolas, igrejas e outros centros
comunitários.
Os grupos
fazem a medição uma vez por mês e enviam os resultados pela internet.
Interessados em participar devem escrever para info@sosma.org.br
A listagem
completa de rios, córregos e lagoas avaliados está disponível na Internet, no
link http://bit.ly/Agua2015.
Fonte: O Dia
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