Três
pesquisadores brasileiros desenvolveram um equipamento que pode reduzir em até
dez vezes o custo dos exames de retina e ampliar o acesso às avaliações
oftalmológicas preventivas. Com a apresentação do SRC – Smart Retinal Camera,
um retinógrafo portátil, eles ganharam o primeiro lugar na seleção brasileira
para participar, nos próximos dias 8 e 9 de novembro, em Berlim, da final do
The Falling Walls Lab, evento mundial que reúne as cem melhores ideias de
inovação científica em benefício da humanidade.
O
produto, no entanto, ainda precisa passar por testes clínicos e a expectativa
dos pesquisadores é que todas as etapas para a comercialização no mercado
ocorra até o primeiro semestre de 2018.
Integrante
da equipe, o físico Diego Lencione explicou que o aparelho consiste em um
conjunto ótico e eletrônico que, acoplado a um smartphone de boa qualidade,
permite obter imagens de alta resolução do fundo do olho. Ele garante que a
qualidade é tão boa quanto a captura tradicional, feita por meio de equipamentos
mais complexos e que estão disponíveis apenas em clínicas especializadas de
oftalmologia.
A
vantagem, segundo o pesquisador, é que o procedimento com a miniatura do
retinógrafo não precisa ser feito por um profissional especializado e tem um
custo ”dez vezes menor do que o convencional”.
Na avaliação
de Lencione, isso facilita, principalmente, a vida de moradores de comunidades
carentes que vivem distante dos grandes centros urbanos e não contam com
clínicas especializadas.
“O resultado
das imagens pode ser enviado para a avaliação de um atendimento de excelência
em oftalmologia e com isso se obtém um laudo remoto de alto nível técnico”,
explicou.
Diagnóstico precoce
Segundo um
dos inventores do SRC, o diagnóstico precoce pode ajudar a prevenir doenças
mais sérias. “Fazer a triagem de pessoas com problemas de retina e
encaminhá-las o quanto antes para tratamento pode-se evitar danos mais sérios
no futuro”, defendeu.
Ele citou
dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) que apontam que 80% dos casos de
cegueira poderiam ser evitados por meio de métodos de prevenção e tratamento.
Segundo o
pesquisador José Augusto Stuchi, também autors do projeto, apesar de existirem
mais de 6 milhões de pessoas com algum tipo de deficiência visual no Brasil, a
maioria das cidades (85%) não conta com oftalmologistas.
Além da
facilidade de transporte do aparelho para uso em campanhas de saúde em lugares
distantes, onde não há retinógrafos, o tamanho reduzido também pode ser útil no
atendimento a crianças, acrescentou Stuchi que é graduado em Engenharia da
Computação. Ele disse que as crianças costumam ter mais dificuldade em se
posicionar corretamente com a testa, queixo e cabeça em frente ao aparelho
convencional.
“Diagnosticar
desde cedo uma doença possibilita que você previna e trate o paciente para que
ele não fique cego. Por ano, 500 mil crianças perdem a visão no mundo e 80% de
todos os casos de cegueira do planeta são evitáveis”, enfatiza o pesquisador.
Ele foi o
apresentador da inovação no concurso brasileiro e deve representar o Brasil na
competição mundial.
Motivador
Stuchi
contou que o projeto surgiu há dois anos. Além dele e do físico Diego Lencione,
também participou do projeto o eletricista Flavio Vieira. Os três são
ex-estudantes da Universidade de São Paulo (USP). O interesse em desenvolver
esse tipo de equipamento surgiu a partir do irmão de Diego que tem problemas de
visão causados por deslocamento de retina.
Para
desenvolver o produto, eles fundaram a startup Phelcom, em março deste ano, e
contaram ainda com o financiamento do Programa Pesquisa Inovativa em Pequenas
Empresas (PIPE) da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo
(Fapesp).
Edição: Lílian Beraldo / Marli Moreira -
Repórter da Agência Brasil
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