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Em artigo,
coordenador da Campanha contra os Agrotóxicos aponta que, de 2007 até hoje,
mais de 34 mil casos de intoxicação por agrotóxico foram notificados no SUS
28/04/2015
/ por Alan Tygel*
No início
de 2011, a Campanha Contra os Agrotóxicos causou estardalhaço ao afirmar que
cada brasileiro consumia 5,2 litros de agrotóxicos por ano. À época, o cálculo
foi simples: a indústria dos venenos, orgulhosa do sucesso de seu mortífero
negócio, alardeou aos quatro ventos que havia vendido 1 bilhão de litros de
agrotóxicos. Divididos pelos então 192 milhões de habitantes, nos davam os 5,2
litros por pessoa. Ainda que este volume todo não chegue diretamente à nossa
mesa, vai nos encontrar algum dia pela terra, pela água ou pelo ar. O veneno
não desaparece, como querem fazer crer aqueles que enriquecem com ele.
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Pois bem,
depois do baque, as associações patronais agrotóxicas deixaram de divulgar a
quantidade de litros vendidos por ano. E, dada a escassez de dados oficiais
sobre a venda destes produtos no Brasil, ficamos quase sem alternativas para
medir o nível geral de intoxicação no país.
Quase.
Talvez para atrair mais “acionistas-vampiros”, a indústria continuou divulgando
sua receita anual, que, em 2014, representou US$ 12,2 bilhões. Multiplicado por
3, chegamos aos exorbitantes R$ 36,6 bilhões.
Quanto
custa um litro de agrotóxico?
Agrotóxico
é um nome genérico para diversas substâncias utilizadas na agricultura e no
controle de vetores urbanos. Em comum, uma característica: matam a vida.
Poderiam, portanto, ser chamados de biocidas.
O Instituto
Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama)
publicou, em 2012, a quantidade de princípios ativos de agrotóxicos vendidos
naquele ano. Os três entes reguladores – Ibama, Agência Nacional de Vigilância
Sanitária (Anvisa) e Ministério da Agricultura (MAPA) – deveriam receber estes
dados das empresas e publicar. Contudo, apenas o primeiro o faz, e já com
atraso de dois anos.
Por esta
lista, vemos que os principais produtos são: glifosato, 2,4-D, atrazina,
acefato, diurom, carbendazim, mancozebe, metomil e clorpirifós. Retirando-se os
aditivos, eles representam 80% do total de agrotóxicos vendidos.
Uma busca
pelos preços de agrotóxicos na internet revela um cenário assustador.
Encontra-se, por exemplo, a atrazina (disruptor endócrino) a R$ 0,34 o litro,
enquanto o mais caro, glifosato (cancerígeno), na promoção sai por R$ 35. Com
uma média dos preços, ponderada pela participação no mercado, chegamos ao valor
de R$ 24,68 por litro de agrotóxico.
A partir da
população estimada pelo IBGE em 2013, de 201 milhões pessoas, temos R$ 36,6
bilhões / R$24,68 por litro de agrotóxico / 201 milhões de pessoas. O que
resulta, então, em 7,36 litros de agrotóxico por pessoa.
E o povo
com isso?
Os preços
dos produtos variam, o dólar ora sobe, ora desce. Poderíamos ter alguns
mililitros a mais ou a menos, mas o certo é que, de 2007 até hoje, 34.282 casos
de intoxicação por agrotóxico foram notificados no Sistema Único de Saúde
(SUS). Mesmo assim, qualquer um que viva no campo sabe o quão improvável é que
uma pessoa reconheça os sintomas de intoxicação, consiga chegar ao atendimento
e que o serviço notifique corretamente. Seja por desconhecimento ou por pressão
de quem mandou aplicar os venenos.
Certo
também é que, além de caros e perigosos, os venenos, assim como os
transgênicos, são desnecessários. De Sul a Norte do país, a produção
agroecológica ganha força na terra, nas feiras e na mesa da população. A não
ser que algum fazendeiro ganancioso inviabilize a produção limpa jogando veneno
na lavoura alheia. Infelizmente, acontece, e muito.
O povo
precisa de informação
Anvisa,
publique os dados sobre vendas de agrotóxicos. Ministério da Agricultura, faça
o mesmo. Ibama, atualize seus dados. Conselhos Regionais de Engenharia e
Agronomia, responsáveis pela emissão de receitas agronômicas, implantem
sistemas informatizados em todos os estados, e divulguem quanto, como e onde se
aplica veneno neste país. Que tipo de engenharia vocês fazem, que não se
compromete socialmente e não fornece informação vital para a saúde do povo?
No entanto,
mais do que contar os mortos, queremos plantar a vida. Governo Federal,
implemente o Plano Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica (Planapo). E,
sobretudo, inicie o Programa Nacional de Redução de Agrotóxicos, que permitirá
a criação de zonas livres de agrotóxicos e transgênicos, além de banir, também
no Brasil, agrotóxicos que já foram banidos lá fora.
Entidades
de pesquisa renomadas como a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), o Instituto
Nacional do Câncer (Inca) e a Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco)
já se juntaram a camponeses e camponesas, que são quem realmente nos alimentam.
E ainda
precisamos de mais apoio da sociedade. Nossa luta diária contra o agronegócio,
os agrotóxicos e os transgênicos só estará completa quando o alimento orgânico
não for mais um privilégio e a agroecologia estiver ao alcance de toda a
população.
*Alan Tygel
é Engenheiro, e participa da coordenação nacional da Campanha Permanente Contra
os Agrotóxicos e Pela Vida.
Fonte: Brasil de Fato
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